Não é fraqueza: a depressão pode ser hereditária e apoiar quem está enfrentando a doença oferece alento em um momento difícil

Quem tem casos de depressão na família pode se perguntar: afinal, porque aquela pessoa simplesmente não “dá a volta por cima” ou “levanta da cama e sai com os amigos”? Bem, não é simples assim. A depressão é uma doença que pode ser incapacitante e não depende da força de vontade de se livrar dela, afinal, acontece por um desequilíbrio químico no cérebro.

É importante saber que esse desequilíbrio químico pode, sim, ser provocado por genes herdados dos pais1. Ou seja, a chance de ter a doença pode ser hereditária, e alguma adversidade na vida ou até mesmo oscilações hormonais naturais – no caso da mulher – podem desencadear o transtorno. No caso da depressão hereditária, familiares de primeiro grau têm até três vezes mais chance de desenvolver depressão do que pessoas que não tem casos na família.1

A psiquiatra Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP) explica que a depressão é duas vezes mais incidente em mulheres do que em homens, exatamente por causa dos hormônios. “Quando a mulher amamenta ou está na menopausa, por exemplo, têm menos hormônios em circulação, e essa condição pode predispor ao aparecimento de depressão em quem tem propensão genética”.

Uma mulher sem tendência genética a ter depressão, porém, teria em tese chances mais altas de passar ilesa por essa gangorra hormonal. Já quem já teve casos na família, nem tanto. O mesmo vale para condições adversas na vida: quanto mais frequentes ou intensas elas forem, mais precocemente a depressão pode aparecer. Não é frescura, é ciência.

Sinais da depressão2

Depressão nem sempre se apresenta unicamente por meio da tristeza. Quem está deprimido também pode sentir desânimo, dores pelo corpo e insônia.

Veja abaixo alguns dos sinais que podem aparecer em um quadro depressivo:

  • Desânimo
  • Tristeza
  • Choro fácil
  • Ideias de morte
  • dores generalizadas ou até localizadas que não se explicam por outas causas
  • Cansaço
  • Insônia ou sonolência excessiva
  • Mudanças de apetite
  • Incapacidade para fazer as tarefas que antes você considerava simples

Não julgue: tenha empatia

É inútil – e só machuca emocionalmente – falar para quem está com depressão que basta ter força de vontade para sair do quadro. Já entendemos que a depressão não é preguiça ou frescura, mas é essencial saber que a pessoa não vai conseguir sair desse quadro se não tiver ajuda profissional.

“É importante ter noção de que é necessário encaminhar a pessoa para um acompanhamento médico. Claro, é sempre importante incentivar que a pessoa faça um exercício3, que participe de uma conversa e que durma as horas necessárias para descansar. Porém, se ela estiver com uma insônia própria da depressão, não adianta colocá-la para dormir, pois a insônia precisa ser tratada”, explica a psiquiatra. “E não é com remédio para dormir, mas por meio do tratamento próprio para a depressão. Tratando a causa, a insônia desaparece”.

Identificou algo errado? Incentive a buscar ajuda

Sabemos que quem tem predisposição genética a ter depressão fica mais vulnerável às adversidades da vida. Porém, quando alguém apresenta sinais iniciais da depressão, acolher e incentivar a pessoa a buscar ajuda é um passo importante.

No caso de uma depressão leve, a psicoterapia consegue influenciar positivamente na melhora. Carmita conta que é muito bom fazer terapia, mas às vezes a pessoa não se sente motivada. Se o familiar começar a notar que a pessoa está com uma certa vulnerabilidade social, uma dificuldade maior em absorver os impactos do cotidiano, é interessante encaminhar a procurar ajuda, mas sem julgamentos ou imposições.

Referências:

[1] Falk W. Lohoff. Overview of the Genetics of Major Depressive Disorder. Current Psychiatry Reports. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3077049/

[2] Mayo Clinic. Depression (major depressive disorder). Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/depression/symptoms-causes/syc-20356007

[3] Lynette L. Craft, Frank M. Perna. The Benefits of Exercise for the Clinically Depressed. The Primary Care Companion to the Journal of Clinical Psychiatry. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC474733/

Entrevista realizada com psiquiatra Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP).

SABRAGE.MDY.18.12.0444

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