Desde 2015, o mundo celebra em fevereiro o “Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência”. A data escolhida pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas foi o dia 11 e passou a integrar o calendário de eventos da fundação a partir de 2019.1

O objetivo é dar visibilidade ao papel e contribuições fundamentais das mulheres nas áreas de pesquisas científica e tecnológica. 1

Segundo um levantamento da Unesco sobre a participação das mulheres na ciência, apenas 30% dos cientistas no mundo são mulheres. No Brasil, a proporção é ainda menor: as mulheres ocupam apenas 14% das posições na Academia Brasileira de Ciências. Desde que o Nobel foi criado, em 1901, o prêmio foi concedido a mais de 622 pessoas nas áreas de ciências, mas apenas 22 dos vencedores foram mulheres. 2

•   Lugar de mulher é onde ela quiser! Principalmente no mercado de trabalho

O número de mulheres com bolsas de iniciação científica, mestrado e/ou doutorado supera o de homens, porém, elas representam apenas 33% do total de bolsistas de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).3

Ainda segundo a Unesco, não há uma quantidade suficiente de dados sobre as disparidades entre homens e mulheres cientistas nessas áreas por país ou a nível internacional. Entretanto, através de pesquisas e registros realizados entre cientistas nesses campos de conhecimento, foi possível visualizar que as mulheres recebem menos por suas pesquisas e progridem em suas carreiras na mesma velocidade do que seus colegas homens.3

E para mudar essa realidade, é preciso que não apenas entidades governamentais se mobilizem, mas como a própria indústria trabalhe com projetos afirmativos e que promovam a equiparação de gênero e aumente a participação de mulheres brasileira na ciência. E, para inspirar jovens mulheres que sonham em seguir a carreira científica, conversamos com três cientistas que fazem parte do time Medley e são exemplo de competência e determinação.

Transpirar para inspirar

A carreira no ramo da ciência pode ser muito recompensadora, mas o caminho exige muita dedicação e estudos. Formanda em Farmácia na turma de 1992 da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Flora Duarte é a atual diretora de Desenvolvimento Industrial de Genérico na Sanofi [grupo do qual faz parte a Medley] e falou com a gente sobre o que é ser uma mulher na ciência e quais as possibilidades que esse ramo de atuação proporciona.

A primeira escolha da carreira foi para trabalhar em pesquisa clínica, o que para ela foi um momento de descoberta. "Eu descobri ali o que eu não queria fazer e mudei meus planos", conta. Flora não se interessou em trabalhar diretamente com a área médica e percebeu que gostaria de se ver na área da indústria.

"Comecei a mandar currículo e fui selecionada para um programa de trainee em uma multinacional alemã. A empresa estava em um momento de reconstrução e fiquei por nove meses trabalhando dentro da companhia, em várias áreas. Depois me ofereceram quatro posições de liderança. Eu já cheguei na indústria com 30 anos e isso é uma grande diferença", relembra.

Hoje, com mais experiência, ela diz que tem uma dica valiosa para as cientistas mais jovens: não ter pressa. "Se forme, estude, se profissionalize de uma forma madura. Quando você chegar no mercado de trabalho com maturidade as coisas andam mais rápido".

Dessa multinacional ela partiu para outras experiências, até chegar na liderança de uma grande equipe, papel onde se sente muito confortável. 

Flora ressalta que aprendeu muito com mulheres que a lideraram ao longo da carreira e tenta passar esse conhecimento para outras mulheres na equipe. "Você precisa ter o seu empoderamento, colocar a sua voz e se fazer ouvir. O meu time é grande, mas é um time de 60% de mulheres. Eu acredito no empoderamento feminino e acredito que elas trazem contribuições diferenciadas onde quer que elas estejam".

O olhar feminino

Para Flora, o olhar feminino é diferenciado quando o assunto é ciência. "Toda mulher pode estar onde ela quiser. Acredito que são dotadas, pela natureza, de uma capacidade de ter uma visão mais holística, o que dá um potencial de se ater a detalhes que muitas vezes os homens não têm. Eles estão muito focados em chegar no objetivo, o que fazem muito bem", contou.

Na visão da gestora, esse diferencial feminino é positivo dentro da área científica e o que ela tenta fazer com sua equipe é utilizar esse dom no sentido de colocar mais informação e aprendizado no trabalho.

"A mulher tem um traço muito cuidadoso. A gente é treinada desde pequena a cuidar. Você traz isso na sua bagagem inconscientemente. O que precisa é trazer isso para a sua consciência e agregar as pessoas para isso"

Muito além do laboratório

Também formada em Farmácia, Edith Tavares está na Medley desde 2021, atualmente é Analista de Bioequivalência, e sempre esteve envolvida em projetos e pesquisas acadêmicas. Ela explica que existe um estereótipo de que uma mulher na ciência vai passar a vida dentro de um laboratório ou debruçada sobre livros, mas que isso não é verdade.

Há quem escolha um desses caminhos, mas é possível transitar por diversas áreas. "Eu entendo que a academia foi uma grande escola para eu chegar até aqui. Eu já trabalhei como professora em duas universidades, mas fazendo ciência a gente acaba trabalhando muito com gestão. A gente é responsável pelo nosso projeto, então a gente quer que ele vá para frente", explica.

Na visão da profissional, toda bagagem adquirida ao longo da carreira pode ser utilizada a qualquer momento. "O que eu quero que as mulheres entendam é que, primeiro, conhecimento adquirido nunca é demais. Gera um enriquecimento e capacidade de pensamento lógico e de gerenciamento muito grande. É uma bagagem que você vai conseguir aplicar em qualquer destino de carreira que você queira seguir. Não é porque você é cientista que você não pode ser gestora e ocupar um cargo de liderança", afirmou.

Ela ressalta as lutas do passado que mulheres na ciência travaram para que a geração atual pudesse chegar ao mercado de trabalho em pé de igualdade. Mesmo que essa ainda não seja a realidade em todos os setores.

"Aqui na Medley a equidade de gênero é muito visível. A gente trabalha em uma empresa em que é praticamente metade homem e metade mulher. Nossos cargos de liderança são ocupados por muitas mulheres. A gente já conseguiu chegar e é um objetivo perpetuar o que as mulheres já conquistaram", disse.

Mulher cientista, com muito orgulho

A analista de desenvolvimento Luana Macedo nos conta como é ser uma mulher brasileira cientista. Para ela, é não ficar na zona de conforto, ter curiosidade, buscar conhecimento e ter senso crítico. "Nós não podemos receber tudo de forma automática, devemos querer saber mais, analisar a situação e verificar tudo o que tem por trás e o que pode ser feito para melhorar".

Formada em Química pela USP de Ribeirão Preto, ela investiu na vida acadêmica com mestrado e doutorado. Antes de trabalhar na indústria farmacêutica, Luana também atuou no ramo alimentício e diz que as técnicas aprendidas podem ser utilizadas em diferentes áreas.

Seu sonho não é de partir para um cargo de liderança e, sim, investir na carreira como especialista. "Hoje sou analista de desenvolvimento sênior e tem toda a parte da ciência teórica e a parte braçal de bancada. Eu me identifico mais com a parte prática e não tenho vontade de migrar para liderança, pois não tenho afinidade".

Apesar disso, ela acredita que pode ser um exemplo dentro do seu ramo de atuação. "Eu tive oportunidade de trabalhar com professoras mulheres. Hoje meu gestor é homem, mas coordenadoras acima dele são mulheres e são referência para mim nesse sentido. Mulheres fortes, que correram atrás e conseguiram alcançar o objetivo.  O meu objetivo é também ser uma referência como uma mulher forte e que tem esse start de inspirar coragem para inserir no ambiente de trabalho científico".
 

Uma boa notícia

Conversamos com três mulheres de idades e trajetórias diferentes e, quando questionadas sobre o machismo em suas carreiras, todas elas disseram que não se sentiram preteridas pelo fato de serem mulheres e de estarem realizadas com o caminho que percorreram até aqui. 

Luana Macedo disse que conversou recentemente com amigas da área sobre isso e a percepção que teve é de que há mais valorização das mulheres cientistas no momento atual. Mesmo que não seja uma unanimidade, é algo a se comemorar.

"Um fator importante é a própria política da empresa. Aqui, na Sanofi, semanalmente temos reuniões que focam em pilares com assuntos específicos. A empresa se assegura em ter esses valores. Por isso a gente já está em um momento da história em que sentimos o efeito do trabalho que foi feito lá atrás", explica.