Lembrete salvo? Agora, saiba tudo sobre o câncer de mama.

O mês de outubro é conhecido internacionalmente como o mês de combate e prevenção do câncer de mama, uma doença que muitas vezes chega sem avisar e pode ser o marco na vida de uma mulher. Foi assim que aconteceu com a administradora de empresas Clarisse Yoshii Galli, que hoje tem 32 anos, que percebeu um caroço dolorido em um dos seios.

Eu fazia exames de rotina a cada ano e o próximo já estava se aproximando. Buscar entender o que era aquele nódulo, com certeza, foi essencial para a minha vida e rapidamente pude começar o tratamento. Era câncer.

O câncer identificado por Clarisse foi o de mama, o que mais atinge as mulheres no Brasil1. De acordo com médico oncologista Manoel Carlos, do Centro de Oncologia do hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, a rapidez com que Clarisse agiu foi fundamental, já que o câncer de mama tem uma taxa de cura muito elevada quando o tratamento é feito precocemente.

O diagnóstico precoce é a principal maneira para diminuir o risco da doença. Na década de 1950, por exemplo, o autoexame das mamas surgiu como estratégia para diminuir os diagnósticos de tumores em fase avançada. A orientação é que a mulher realize a autopalpação das mamas sempre que se sentir confortável para tal (seja no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano).2

Sempre que perceber alguma anormalidade, como foi o caso de Clarisse, a orientação é sempre pela busca de ajuda médica. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no entanto, a maior parte das mulheres com câncer de mama identificou o câncer por meio da palpação ocasional em comparação com o autoexame (aproximadamente 65% das mulheres identificam o câncer de mama casualmente e 35% por meio do autoexame mensal).2

As principais formas de se detectar o tumor são exames de imagem como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética. O principal exame é a mamografia, que deve ser feita a partir dos 40 anos, uma vez ao ano3. "Quando a mulher está em um grupo de risco, que é quando tem casos na família, por exemplo, os exames devem ser feitos antes dos 40 e é importante o acompanhamento com um médico especializado", disse Manoel Carlos.

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Um estudo aponta que a chance de cura do câncer de mama gira entre 98% e 99% quando o diagnóstico é feito no começo da doença e cai para até 5% quando é feito quando o câncer está avançado. Pegar essa doença no estágio inicial significa curar, contou.

E foi de olho nesse diagnóstico precoce que o mês de outubro foi eleito pela saúde pública como o mês para debater o câncer de mama. Celebrado anualmente desde a década de 1990, o Outubro Rosa promove ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce da doença, com o objetivo de levar mais informações para o maior número possível de mulheres.

Felizmente, a questão de diagnóstico melhorou nos últimos anos e temos um aumento no número de mamografias, tanto no setor público como privado. Vemos um esforço grande do Sistema Único de Saúde (SUS) e dos hospitais privados para fazer os exames no momento correto”, avaliou o médico.

Inicio do tratamento

E foi desse jeito, com o exame no momento correto, que a administradora de empresas Clarisse iniciou o seu tratamento, ainda no ano de 2017. “Iniciei o meu tratamento de quimioterapia apenas 10 dias após perceber o nódulo. Foi uma ação rápida para evitar o crescimento das células cancerígenas e evitar uma eventual metástase (quando o câncer se espalha). Foi tudo muito intenso e rápido”, disse ela.

Apesar de ter iniciado o tratamento muito rapidamente, o câncer de mama de Clarisse já estava avançado e era agressivo, ou seja, tinha um crescimento muito rápido.

Após digerir a notícia do diagnóstico, Clarisse lembra que bastaram alguns minutos para que viesse um sentimento de esperança em seu coração. “Percebi no meu coração que tinha muita vida pela frente e que aquele não era o meu momento. Foi quando mergulhei no tratamento”, disse.

Cada indivíduo reage de uma maneira diferente ao tratamento de uma doença como o câncer de mama. No caso de Clarisse, as sessões de quimioterapia foram encaradas como um recomeço para a própria vida. “O câncer foi uma resposta de como eu estava levando a minha existência, sempre no ‘piloto automático’. Senti como um tapa divino que me despertou, me fez valorizar tudo aquilo que merece a minha energia e passei a olhar para dentro de mim, pois a cura do corpo começa de dentro, com corpo, mente e espírito bem cuidados”, refletiu.

Foram 16 sessões de quimioterapia, 25 sessões de radioterapia e uma mastectomia bilateral, que remove o tecido mamário de ambos os seios. Tudo isso ao longo de nove meses.

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Foram momentos bem difíceis, mais ainda acho que o mais difícil deles foi receber o diagnóstico. Depois disso decidi encarar essa jornada de maneira leve e com o coração transbordando gratidão pela oportunidade de estar viva, de me curar em um ótimo hospital, com profissionais incríveis e com amigos e familiares ao meu lado. Receber tanto amor e carinho diariamente me tornou uma pessoa melhor.

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Na visão do oncologista Manoel Carlos, a medicina moderna está cada vez mais empenhada em dar conforto e atenção ao paciente. Segundo ele, a própria mastectomia evoluiu muito ao longo do tempo, deixando de ser uma cirurgia que “quanto mais agressiva, mais eficaz”.

Hoje esse pensamento mudou. Fazemos a quimioterapia primeiro para que a cirurgia, quando necessária, seja menos mutilante, pois entendemos que o impacto emocional é muito importante até para a mulher poder voltar a ter a vida sexual e sua sexualidade aflorada, como todo ser humano, contou.

Clarisse se curou da doença em 2018 e faz acompanhamentos médicos de rotina. Segundo ela, sua rede de apoio foi a família e amigos, que ficaram ainda mais próximos durante o tratamento. “ Foi muito bom sentir diariamente o amor incondicional de mãe. Nesse tipo de situação, minha família se uniu muito, tanto que a minha irmã, que mora em Brasília, passou 50 dias em São Paulo para poder dar apoio. Perceber que as pessoas se juntam mais do que se afastam, essa corrente do bem, onde todos estão vibrando por você me tornou uma pessoa muito melhor”.

Quando mulheres viram pérolas

Muitas mulheres que enfrentam o câncer, no entanto, não recebem o mesmo respaldo de amigos e familiares como foi o caso de Clarisse. E em um ato de solidariedade com essas mulheres, foi criada em 2014 a ONG Pérolas, sediada no Rio de Janeiro.

A atual presidente, Jhiovanna Ibañez, explica que a entidade desenvolve trabalhos voluntários para diminuir o sofrimento de quem passa pelo tratamento do câncer e também ajuda quem já passou pela doença a se ver novamente como mulher.

O projeto foi pensado para as mulheres com câncer de mama, para elevar a autoestima delas e, para isso, pensamos em uma sessão fotográfica mostrando como elas são. Muitas se sentem menos femininas e desvalorizadas, disse.

Para fazer com que as pacientes voltem a se valorizar, e se enxerguem como “pérolas”, o grupo promove aulas de expressão corporal e, quando elas estão se aceitando novamente como mulheres, há uma sessão de maquiagem e ensaio fotográfico para valorizar a beleza que existe em cada uma delas.

“Elas chegam coibidas ao projeto, mas com a expressão corporal elas percebem que nunca deixaram de ser mulheres lindas. Elas se libertam e acabam se soltando, fazendo ensaios fotográficos sensuais que nunca imaginaram fazer. Fazemos isso respeitando a vontade de cada uma delas, mas o resultado é sempre impressionante”.

Todo o trabalho do projeto Pérolas é gratuito e conta com a colaboração de professoras de teatro, maquiadoras, fotógrafas, psicólogas, cabeleireiros e até tatuadores, que são fundamentais para aquelas que perderam a aréolas dos seios e conseguem por meio da arte reconstruir visualmente essa área do corpo.

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A tatuagem é muito importante, pois muitas delas não conseguem fazer a cirurgia de reconstrução do bico (do seio). O resultado final é tão bonito e satisfatório, que cada uma delas se sente renovada após a sessão”, contou a presidente da ONG.

São quatro tatuadores voluntários que também fazem o trabalho de micropigmentação, principalmente na área das sobrancelhas, que são muito afetadas pelas sessões de quimioterapia.

Os cabelos para perucas e megahair são fornecidos por cabeleireiros voluntários e os grupos de terapia são organizados por psicólogos parceiros.

No entanto, por serem uma organização que trabalha apenas com voluntariado, algumas áreas acabam ficando sem profissionais por causa da rotatividade. “Atualmente, a gente procura psicólogos para terapia individual e terapeutas, já que é muito importante a restabelecimento dos movimentos corporais após uma cirurgia”, diz Jhiovanna.

WhatsApp do bem

Um dos projetos mais empolgantes na visão da líder do projeto Pérolas, no entanto, envolve uma rede de apoio feita pelas próprias mulheres. "Temos um grupo de WhatsApp com mais de 70 mulheres e é nesse espaço que elas conseguem confidencializar cada tema que estejam machucando o fortalecendo cada uma. Elas dão dicas para comprar medicamentos, falam do cotidiano e, acima de tudo, dão apoio às companheiras que estão mais vulneráveis ou em momentos mais difíceis", relata Ibañez.

Segundo ela, o grupo representa todo o amor que uma pérola tem pela outra e isso evita com que a tristeza e a depressão se aproximem. "A maioria não tem economias, mas elas se organizam e oferecem apoio financeiro para quem está mais necessitada. Teve caso de se juntarem para comprar uma cozinha para uma das pérolas e, em outro, conseguiram fazer a reforma de uma casa que estava com goteiras por causa da chuva. Elas se ajudam em tudo e isso é muito lindo", diz emocionada.

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O grupo de WhatsApp é um ambiente acolhedor para novatas, que ainda estão desestabilizadas pelo diagnóstico, e para aquelas que já se curaram do câncer, mas procuram valorizar a autoestima e se reconectar com a feminilidade.

O diagnóstico do câncer pode não ser um momento fácil, mas a medicina e a sociedade estão caminhando para que essa jornada seja cada vez mais humanizada e repleta de cumplicidade.

O que machuca muitas vezes não é a quimioterapia ou a cirurgia, mas sim a solidão e o sentimento de impotência. E para isso, assim como o câncer, há cura e há pessoas dedicadas a fazer com que uma doença não determine o que uma mulher é.

“Alguns médicos falam que o maior poder para poder vencer o câncer é o poder do amor e o poder de um propósito. Cada mulher tem um propósito de vida e elas seguem essa meta. É nisso que acreditamos”, disse Jhiovanna Ibañes, que deixou a Bolívia para se dedicar ao atendimento de mulheres com câncer no Brasil.

Essa é a função do Outubro Rosa: alertar sobre a gravidade do câncer de mama, mas também explicar que há tratamento e é sim possível vencer esta doença.

Serviço

Quer saber mais sobre o projeto Pérolas? Acesse: https://www.projetoperolas.org.br/

Referências bibliográficas:

1. Ministério da Saúde do Brasil. Câncer de Mama, 2015. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/dicas-em-saude/839-cancer-de-mama - Acesso em 11 de setembro de 2019

2. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Detecção precoce do câncer de mama. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-de-mama/acoes-de-controle/deteccao-precoce. Acesso em 20 de setembro de 2019

3. Hospital Nove de Julho. Câncer de mama: importância da detecção precoce. Disponível em:: https://www.h9j.com.br/suasaude/paginas/C%C3%A2ncer-de-mama%C2%A0import%C3%A2ncia-da-detec%C3%A7%C3%A3o-precoce.aspx. Acesso em 20 de setembro de 2019

SABRAGE.MDY.19.09.0344