Câncer de Mama: como ajudar uma amiga que está passando por isso?

O câncer de mama é potencialmente estressante para a pessoa, sua família e seu círculo de amigos(as). Essa experiência pode ser considerada como fator de sobrecarga física e emocional, que repercute sobre a saúde de seus membros. Afinal, os cuidados prestados podem levar a mudanças da dinâmica e estruturas, sendo potencial fonte de estresse, pois estão diretamente relacionados às fases de evolução da doença.¹

Existem estudos que abordam esse impacto não apenas nos parentes mais próximos, mas também no ciclo de amizade. O diagnóstico de câncer faz com que a pessoa doente medite profundamente acerca da autenticidade da amizade e, através dessas reflexões, procura afastar-se de pessoas que não se preocupam verdadeiramente com seu padecimento, permanecendo somente com os amigos autênticos. ²

No entender de algumas mulheres, o distanciamento dos amigos está associado ao fato de eles não estarem preparados para conviver com o portador de câncer². Mas, para compreender essa relação entre amigos e parentes com mulheres diagnosticadas com câncer de mama, conversamos com pessoas que passaram ou estão passando por essa etapa. É o caso da psicóloga Cleide Bronholo, 27 anos, de Curitiba, que conta como a mãe percebeu os primeiros sinais do câncer de mama e como a notícia repercutiu na família.

"Ela sentiu um nódulo no seio durante o banho e contou para todas as pessoas mais próximas, menos para mim, que sou muito apegada a ela. Ela quis me poupar, mas como sou eu quem acompanha ela em tudo, acabamos indo juntas fazer os exames e confirmar esse diagnóstico", relembra.

"Foi muito difícil para mim, pois nunca tive ninguém com uma doença assim na família. Não sabia como seria o tratamento, a quimio. Eu me desesperei", relatou.

Para auxiliar a mãe, Cleide entrou em contato com um grupo de apoio e outras mulheres diagnosticadas com câncer de mama e passou a ouvir sobre a experiência delas durante o tratamento. "Esse apoio acaba fortalecendo a gente, pois vemos pessoas se recuperando, outras que passam por dificuldades parecidas com a que estamos passando. Ajuda muito".

Entendendo a importância do apoio familiar, após cada sessão de quimioterapia a psicóloga passou a preparar singelas surpresas para celebrar cada etapa ultrapassada. "É importante demonstrar esse carinho. Eu dou flores, ou chocolates, sempre para mostrar que estou ao lado dela em cada etapa, para ela sentir que é apoiada e amada".

Segundo ela, o diagnóstico mexeu com toda a família e provocou mais união.

Compartilhando sentimentos

Ao receber o diagnóstico de um câncer, cada pessoa reage de uma maneira e decide se quer compartilhar essa informação logo no início do tratamento ou não.  Vanessa Verea, 36 anos, é gerente-executiva de marketing e recebeu o diagnóstico em um momento de estabilidade tanto na vida pessoal como profissional. Na ocasião, ela decidiu compartilhar com as pessoas mais próximas sobre o que havia descoberto.

"Meu primeiro momento foi de não querer absorver todo o tabu e peso do nome câncer. Queria, desde o início, me desvincular de histórias tristes que ouvimos bastante, porque sei que elas acabam sendo mais conhecidas e faladas do que as felizes. Mas sei que também existem as felizes. Logo que tive o diagnóstico, já incorporei que para meu caso tudo seria simples, rápido e com a cura completa. Achei nos primeiros dias que só teria que operar e pronto" nos conta.

Por mais que nem tudo tenha saído conforme mentalizado, Vanessa se diz grata por ter pessoas queridas por perto o tempo todo, tanto parentes como amigos. "Desde o primeiro momento, foram feitas correntes de rezas e minhas amigas montaram um grupo no WhatsApp com minha mãe para poder saber mais sobre mim e até ajudá-la. Se minha mãe não estava comigo, alguma delas estava! Não me senti sozinha em momento algum, pelo contrário, senti que não era só eu vivendo a doença, todos ao redor vivem ela comigo”.

E, diante desse turbilhão de emoções e desafios, a carreira profissional ainda seguia seu rumo. E uma promoção chegou bem no meio do tratamento, o que deu ainda mais motivação para Vanessa. "Foi especial porque naquele momento eu já tinha percebido o peso do nome 'câncer’ e ‘quimioterapia’. Ser promovida poderia ajudar a desmistificar esse peso e mostrar que a vida continua".

Durante a sua jornada, a Vanessa mentalizou quatro palavras que a ajudaram a seguir em diante. Ela adaptou o tradicional "Força, Foco e Fé" adicionando uma quarta palavra, que apesar de ser considerada um palavrão, ajuda a expressar bem alguns momentos.

"Não queria só a cura, queria passar por isso bem e aproveitando a vida! Em muitos momentos me pego refletindo qual dos 4 Fs que se aplica mais ao momento que estou. Agora, no pós-cirúrgico, o F de FORÇA é o mais importante. Quando lavava o cabelo no banho e via o tanto de fios que caíam, o melhor F não tinha como não ser o F*D#-SE. Aguardando resultados de exames ou em dias que ficava mais chateada, FÉ transformava meu mood. E no momento de tomar os remédios, colocar a touca e começar a quimio, o melhor F era o FOCO", conta.

Ajudar: um propósito de vida

A Beatriz Helena Sakano tem 59 anos e é moradora da capital paulista. Ela própria venceu o câncer de mama em 2001 e alguns eventos na sua vida fizeram com que o apoio às mulheres com a doença fosse parte integral do seu trabalho.

Todo o apoio começou em 2003, quando Beatriz entrou em um movimento para lutar pela retomada do direito ao transporte coletivo gratuito para pacientes com câncer de mama. Foi então que ela se aproximou de associações que fazem trabalhos junto a mulheres com a doença.

"Me apaixonei pelo trabalho voluntário e, após perder a minha mãe em 2007 para um câncer no ovário, decidi fazer um trabalho no bairro de São Mateus, onde moro há mais de 30 anos”.

Com ajuda de amigas, ela fundou o Rosa Mulher, um grupo de apoio às mulheres com câncer. Lá, 70% das voluntárias já tiveram o câncer de mama e a instituição faz trabalhos para ajudar quem passa pelo tratamento. Uma das iniciativas, por exemplo, faz perucas para ajudar na autoestima de quem perde o cabelo na quimioterapia.

"Muitas vezes chegam aqui com uma queda muito grande do cabelo, então, para aquelas que aceitam, nós raspamos a cabeça e ela já sai com lenços, turbantes ou a própria peruca, de acordo com a vontade de cada uma", disse.

O projeto também oferece apoio psicológico e, sobretudo, um ombro amigo para quem precisa conversar.

Como não piorar ainda mais a situação após o diagnóstico de câncer de mama?

Perguntamos para Beatriz se, em algum momento, a tentativa de apoio pode provocar mágoa ou até atrapalhar por causa da falta de sensibilidade. Ela nos contou que algumas falas comuns podem ser difíceis de ouvir para quem acabou de receber o diagnóstico. Veja cinco delas:

  1. "Calma, fique tranquila". 

    Segundo Beatriz, essa fala pode ser negativa a partir do momento que se ouve o tempo todo. A dica, nesse caso, é trocar por um abraço.

  2. "Sei o quanto é difícil"

    Neste caso, diga apenas se souber realmente o quanto é difícil. Ou seja, se já tiver passado pela experiência de um câncer de mama e se for parecido com o câncer da pessoa com quem está falando.

  3. "Nossa, você está pálida".

     Aqui, mais uma vez, nossa entrevistada diz que o silêncio é a melhor saída.

  4. "É só uma mama".

     Beatriz, que fez o procedimento de mastectomia radical, ou seja, retirada total da mama, explica que não é só uma mama: "É uma parte do nosso corpo que é mutilada".

  5. "O cabelo volta, fique calma".

    Ela sabe que o cabelo volta e não precisa ouvir isso agora. É melhor dizer: "Amiga, passe um batom e arrase, você é linda!".
     

Como uma pessoa que escolheu dedicar a vida para acolher mulheres que passam pelo câncer de mama, Beatriz fala o que gosta de dizer para elas: "Costumo falar que elas não estão sozinhas e que estamos aqui. Que se permitam viver um dia de cada vez".

Outubro Rosa

O mês de outubro já é conhecido mundialmente como um mês marcado por ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. O movimento, conhecido como Outubro Rosa, é celebrado anualmente desde os anos 1990. O objetivo da campanha é compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade.3

O movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama foi criado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos. A data é celebrada anualmente desde então.4

Referências bibliográficas:

  1. Jeane Saskya Campos Tavares, Leny Alves Bomfim Trad. Famílias de mulheres com câncer de mama: desafios associados com cuidado e os fatores de enfrentamento. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/JHqjSFqMPQpM7fRZSVgFvkf/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 2022, junho;
     
  2. Revista Brasileira de Enfermagem: Mudanças nos relacionamentos com os amigos, cônjuge e família após o diagnóstico de câncer na mulher. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/Jz5s94fRDJZWvfmbQj58cNH/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 2022, junho;
     
  3. Ministério da Saúde. Outubro Rosa: prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/outubro-rosa-prevencao-e-diagnostico-precoce-do-cancer-de-mama/. Acesso em: 2021, Junho;
     
  4. Instituto Nacional de Câncer. Eu cuido da minha saúde todos os dias. E você?. Disponível em: https://www.inca.gov.br/campanhas/outubro-rosa/2021/eu-cuido-da-minha-saude-todos-os-dias-e-voce. Acesso em: 2022; Junho.

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