Conforme as festas de final de ano se aproximam, ficamos ansiosos para reencontrar os parentes e aproveitar o banquete. Certo? Bem, nem tudo são flores, estrelas de belém e perus de natal no mês de dezembro. Além das passas no arroz, certas famílias precisam lidar com conversas desconfortáveis que envolvem desde perguntas íntimas até política.

Tristeza com data para começar?

O final do ano, inclusive, pode ser uma época difícil e até deprimente para algumas pessoas. Segundo Edgar Oliveira, terapeuta cognitivo e psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, existem duas hipóteses para isso. A primeira ocorre particularmente no hemisfério norte, quando a incidência de luz diminui por causa do inverno.

A segundo pode ocorrer também no Brasil. Com a proximidade do natal, há quem sinta solidão por causa de brigas com a família, separações ou a perda de alguém querido. Para evitar a tristeza, Edgar recomenda fazer atividades úteis ou prazerosas em grupo, como um trabalho voluntário. O ideal, no entanto, é procurar estar perto de pessoas que façam bem.

Mas de nada adianta encontrar pessoas queridas e ficar desconfortável, não é mesmo? Preparamos um pequeno guia para te ajudar a lidar melhor com as conversas difíceis nas festas de final de ano.

Comunique-se bem durante as festas

Há uma estratégia desenvolvida pela terapia cognitiva que é útil para enfrentar situações desconfortáveis, como as conversas em família no final do ano. "Em terapia cognitiva e psicologia, está muito em voga um tema que se chama treino de assertividade. Essa técnica de comunicação consiste em aguardar o melhor momento para comunicar algo, assim como falar do que sente e não julgar o outro", explica. Veja como colocar o treino de assertividade em prática:

Deixe suas intenções claras

Antes de manifestar uma opinião polêmica ou tocar em um assunto delicado, deixe clara sua intenção. Diga, por exemplo, que não deseja ofender ou agredir ninguém e que aquela é apenas a sua opinião - mas que respeita opiniões diferentes.

Alguém se sentiu desconfortável com o que você disse? Diga que não foi sua intenção, faça perguntas e peça que a outra pessoa também manifeste sua próprio opinião.
 

Comunique o que sente

Alguns assuntos podem nos deixar desconfortáveis, como o término de um relacionamento, a perda de um emprego ou nossa orientação sexual. Forma de evitar perguntas indesejáveis é comunicar como nos sentimos quando falamos sobre isso.

Diga que você se sente desconfortável e peça aos seus familiares que evitem tocar no assunto durante a noite. Você pode, inclusive, fazer isso com antecedência. Se não quer que toquem em tal assunto, antecipe-se e peça para que seja evitado , aconselha Edgar."

Outros assuntos desconfortáveis, como política, também podem ficar de fora se geram discussões. Em vez disso, encontre temas menos polêmicos para conversar, assim como gostos em comum. Os seus parentes gostam de viajar? Gostam de ir ao teatro? Praticam esportes? Prefira papos mais leves.

 

Evite qualificar ou adjetivar o outro

A técnica de assertividade prevê que não devemos julgar ou qualificar o outro. Por exemplo, não diga que está sendo grosseiro ou estúpido. Diga como você se sente quando aquela pessoa age de forma grosseira. "Dessa forma, evito qualificar o outro. Quando falo como me sinto, já estou colocando um limite", afirma Edgar.

Dizer "me sinto ofendido" em vez de "você me ofendeu" ou "você é grosseiro" também é forma de evitar que o outro se sinta atacado. Assim, a probabilidade de abrir espaço para mais agressividade é menor,
argumenta. 
 

Seja empático

Você já ouviu o termo "calçar os sapatos do outro"? Significa se colocar no lugar de alguém para enxergar o mundo pela perspectiva dela. Praticar a empatia é fundamental antes de se comunicar com pessoas que pensam diferente.

Portanto, antes de manifestar a sua opinião, tente compreender como o outro se sente em relação à ela. Questione-se: será que é agradável ou cabível comentar tal questão neste momento de festa?

"Se a pessoa tiver habilidade, ela consegue conviver com o diferente sem se afastar dele, sabendo que o outro não precisa concordar com as suas opiniões", diz Edgar. "A empatia significa justamente saber que o outro pode ter uma vivência diferente da minha e, portanto, é preciso respeitá-lo", completa.
 

Fique perto de quem te faz bem

O natal é, tradicionalmente, uma festa de família ou de pessoas próximas. Neste ano, passe ao lado de quem te faz bem,
afirma o psiquiatra.

Não é possível evitar as festas ao lado de um parente desagradável? Evite conversar muito com ele durante a noite ou tente falar sobre temas que agradem a ambos. A ceia de natal não precisa se transformar em um ringue de boxe ou em um muro das lamentações. Prefira aproveitar de forma saudável a companhia de quem você vê com pouca frequência. Afinal, é Natal.

***Aspas do terapeuta cognitivo e psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, Edgar Oliveira

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