rede de apoio: ter amigas faz bem para a saúde feminina

A amizade entre mulheres pode reduzir o estresse e até apoiar pacientes em tratamento de câncer. Entenda a relação.

Há esse mito de que a competição e a inimizade é mais forte entre mulheres do que homens, mas essa é apenas uma ideia baseada em um estereótipo de gênero. Evidências científicas mostram que ter uma rede de apoio formada por boas amigas traz benefícios tanto para a saúde emocional, quanto física.

Todos precisamos de uma aldeia

As relações sociais que estabelecemos não existem apenas para nos dar prazer. Elas também influenciam nossa saúde a longo prazo de maneiras tão poderosas quanto um sono adequado, boa alimentação e a não adoção de hábitos prejudiciais, como fumar.1 De acordo com a Universidade de Harvard1, dezenas de estudos mostram que pessoas que têm relacionamentos satisfatórios com a família, amigos e comunidade são mais felizes, saudáveis e vivem mais.

Para as mulheres, manter uma rede de apoio sólida pode trazer benefícios especiais, até inesperados. De acordo com um estudo2 publicado em 2015, para que sejam mais saudáveis e ativas na sociedade, precisam estabelecer diferentes tipos de relações sociais e apoio mútuo. Por isso, precisam estar bem informadas sobre tais vantagens.

Quem já tem filhos conhece bem a primeira delas: a importância de receber suporte no pós-parto. Você já ouviu a expressão "é preciso uma aldeia para criar uma criança"?3 Ela significa que a responsabilidade não está toda nas costas da mãe, mas também das pessoas que a rodeiam.

Para que a criança desenvolva todo o seu potencial, familiares, amigos, educadores, profissionais de saúde e, é claro, o pai, devem participar do seu crescimento. Paralelamente, essa rede de apoio é fundamental após o nascimento do bebê, pois possibilita que a mãe amamente, diminua a possibilidade de desenvolver depressão pós-parto e tenha equilíbrio suficiente para cuidar do pequeno desde a tenra idade.4

Ter boas amigas ainda ajuda as mulheres a lidar com situações estressantes, enquanto para os homens a estratégia é diferente. Um estudo de referência5 sobre a relação entre amizades e estresse descobriu que o sexo feminino reage ao estresse de forma diferente dos homens, devido às diferentes proporções de hormônios liberados na corrente sanguínea.

Quando estamos estressados, a ocitocina, um hormônio ligado ao prazer, entra em ação para regular sensações negativas do estresse, como medo e raiva. Os homens liberam quantidades muito menores de ocitocina do que as mulheres. Portanto, quando passam por situações estressantes, entram em conflito ou preferem se fechar completamente, sem buscar apoio.5

Já as mulheres, segundo as autoras do estudo, são geneticamente conectadas às amizades em grande parte devido à ocitocina liberada em suas correntes sanguíneas. Também conhecida como "hormônio do amor", ela produz sensações que promovem o apego e, portanto, ajudam a fortalecer relações interpessoais. Assim, quando a vida se torna desafiadora, a reação natural do sexo feminino é procurar por apoio mútuo.

Amigos em prol da saúde física

Não é só a saúde emocional que se fortalece quando mulheres estão em uma rede de confiança e amor. Ao estudar a taxa de sobrevivência de mulheres com câncer de mama, o pesquisador David Spiegel descobriu que as pacientes que tinham um forte círculo de apoio sobrevivam por mais tempo do que aquelas que viviam em isolamento social. 6

Além disso, quanto mais amigos as mulheres têm, menor a probabilidade de desenvolverem deficiências físicas à medida que envelhecem.7 Mas não são quaisqueres amigos: devem ser boas relações de amizade, nas quais podemos confiar. Lembrando que a ausência delas é tão prejudicial quanto estar acima do peso ou fumar.7

Por fim, ter bons amigos pode fazer toda a diferença quando passamos por momentos difíceis, como a perda do companheiro(a) de vida. Isso porque tais amizades ajudam a compartilhar o fardo.7

Ainda não está convencida sobre o poder das amizades? Veja, abaixo, outros benefícios:8

  • Aumenta seu senso de pertencimento e seus propósitos;
  • Aumenta a felicidade e reduz o estresse;
  • Melhora a autoconfiança e a auto-estima;
  • Ajuda a lidar com traumas, como o divórcio, e com doenças graves;
  • Incentiva a abandonar hábitos poucos saudáveis, como o consumo excessivo de álcool.

Construa a sua aldeia

Está se sentindo solitária, mas não sabe pode onde começar a mudar sua realidade? Boa forma de dar o primeiro passo é procurar por novos interesses, como uma aula ou uma nova prática esportiva. Fazer trabalho voluntário ou participar de eventos da sua comunidade, como festas de confraternização do trabalho ou do bairro, também são bons locais para conhecer gente nova.

Além disso, se você tem amigos com os quais não conversa há tempos, retome o contato. Faça convites e aceite as propostas de quem você conhece. Proponha-se a estabelecer novos vínculos, o que inclui deixar as redes sociais um pouco de lado.8 Topa o desafio?

Referências

1. Harvard Medical School - Harvard Health Publishing [homepage na internet]. The health benefits of strong relationships [acesso em 22 Jan 2019]. Disponível em: https://www.health.harvard.edu/newsletter_article/the-health-benefits-of-strong-relationships

2. Ahmadi A. A. Social Support and Women’s Health. Women Health Bull. 3(1):e60232. 2016. Disponível em: http://womenshealthbulletin.com/en/articles/60232.html

3. Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal [homepage na internet]. Precisa uma aldeia para cuidar da criança [acesso em 22 Jan 2019]. Disponível em: https://www.fmcsv.org.br/en-US/biblioteca/precisa-uma-aldeia-para-cuidar-da-crianca/

4. Negron R, Martin A, Almog M, Balbierz A, Howell EA. Social support during the postpartum period: Mothers’ views on needs, expectations, and mobilization of support. Matern Child Health J. 17(4): 616–623. 1 Mai 2014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3518627/

5. Taylor SE, Klein LC, Lewis BP, Gruenewald TL, Gurung RAR, Updegraff JA. Biobehavioral Responses to Stress in Females: Tend-and-Befriend, Not Fight-or-Flight. Psychological Review.. Vol. 107, No. 3, 411-429. 2000. Disponível em: http://www.findem.com.au/resources/tendandbefriend.pdf

6. DeAngelis T. How do mind-body interventions affect breast cancer? American Psychological Association. Vol 33, No. 6, P 51. Jun 2002. Disponível em: https://www.apa.org/monitor/jun02/mindbody.aspx

7. Waxler-Morrison N, Hislop TG, Mears B, Kan L. Effects of social relationships on survival for women with breast cancer: A prospective study. Social Science & Medicine. Volume 33. P 177 - 183. 1991. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/027795369190178F

8. Mayo Clinic [homepage na internet]. Friendships: Enrich your life and improve your health [acesso em 22 Jan 2019]. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/adult-health/in-depth/friendships/art-20044860

SABRAGE.MDY.19.02.0057