como o corpo reage quando viramos mães adotivas?
Ao adotar uma criança, o cérebro da mulher passa a produzir um hormônio que está ligado diretamente aos comportamentos do novo membro da família.
A maternidade pode se apresentar na vida de uma mulher de diversas maneiras. Existem aquelas que são pegas de surpresa, as que planejam durante anos e até aquelas que escolhem um filho, já nascido, para chamar de seu.
Hoje vamos falar desta terceira mãe, que mesmo sem ter gerado a criança em seu ventre, ama incondicionalmente a ponto de chamá-la de filho (a). No Brasil, em 2019, cerca de 45 mil pessoas estão inscritas no Cadastro Nacional de Adoção1 na espera da realização de um sonho de ser pai ou mãe.
A maternidade adotiva, no entanto, pode trazer desafios adicionais tanto para a criança quanto para os pais, já que estudos indicam que os bebês são pré-programados desde o nascimento a formar vínculos com outras pessoas2 e, no caso de crianças abandonadas ou sem esse tipo de vínculo, pode gerar o que chamamos de falta de relacionamento de apego3.
Os pais adotivos podem, felizmente, preencher esta lacuna dedicando tempo e cuidado ao novo membro da família e com o passar dos meses, essa dedicação começa a se traduzir em uma relação legítima entre pais e filhos3.
Quando eu virei mãe?
Se engana quem pensa que essa companhia e companheirismo entre pais e filhos adotados muda a saúde apenas da criança. Um estudo examinou os processos biológicos associados ao vínculo entre mãe e filho adotivo e concluiu que, com o passar do tempo, o cérebro das mães vai se adaptando a essa condição4.
A produção de ocitocina das mães adotivas foi associada às suas expressões de deleite aos comportamentos dos filhos. A ocitocina, conhecida popularmente também como hormônio do amor5 é responsável pelo desenvolvimento de empatia e apego a outras pessoas.
A ciência mostra que o cérebro da mãe adotiva passa por essa modificação e esse hormônio é produzido por meio de afetos positivos, sorrisos, elogios e encorajamento ativo com o filho que foi adotado4.
Nos primeiros meses da adoção, segundo os testes, a empatia da mulher está relacionada às imagens de crianças em geral. No entanto, com o passar do tempo, a produção do hormônio é maior quando os cientistas colocam imagens específicas dos filhos adotados, o que demonstra como esse vínculo age no cérebro.
Esse é um sentimento que comprova que, apesar da não existência da parte biológica, como gestação e amamentação, o cérebro da mãe adotiva, com o passar do tempo, vai se comportar de maneira semelhante ao de uma mãe que deu à luz ao seu filho.4
Para que essa aproximação seja mais eficaz e o laço seja fortalecido mais rapidamente, os pais devem incentivar a criança a desenvolver um sentimento de pertencer à família, fazendo-a participar de atividades familiares rotineiras, como jantar juntos ou participar de encontros com outros parentes.3
Para ajudar neste processo, a lei trabalhista garante a um dos pais adotivos uma licença-maternidade de até 120 dias, com direito a remuneração.6 Esse direito vai ao encontro de estudos que sugerem melhor adaptação em lares adotivos com pais que não trabalham e permanecem mais tempo em casa na companhia do novo membro da família.3
O ato da adoção é sem dúvida, um ato de amor e compaixão. A partir do primeiro encontro, cada gesto conta para que, aos poucos, os laços familiares sejam formados e fortalecidos para toda a vida.
Referências
2. Harlow HF, Zimmermann RR. The Development of Affectional Responses in Infant Monkeys. Proc Am Philos Soc. 1958; 102 : 501-509
SABRAGE.MDY.19.04.0154