Dezembro vermelho: a vida de quem vive com HIV

Você sabe o que é o HIV? Esta é sigla em inglês para o Vírus da Imunodeficiência Humana¹, que vem sendo estudado há quase 40 anos e, com o avanço da ciência, tem dado às pessoas soropositivas (que possuem o vírus) uma vida plena com medicações que inibem a manifestação da Aids, que é a doença decorrente do vírus.

Esse é o caso da publicitária Thais Renovatto, que tem 36 anos e foi diagnosticada com o HIV em 2014, após uma relação sem preservativos com o então namorado.

Assim que soube que era soropositivo, Thais cercou-se de profissionais da área médica como um infectologista e uma psicóloga para entender como funcionava o desenvolvimento do vírus. "Eu tinha muito medo dos efeitos colaterais dos remédios e, por isso, eu tive um trabalho muito importante dos meus médicos para que eu começasse o tratamento logo e entender que não poderia parar", disse.

Você sabia?

Existe uma diferença entre HIV e Aids. Atualmente, nem todo paciente com HIV chega a desenvolver a Aids, que nada mais é do que uma das consequências do vírus, chamada Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. O diagnóstico de Aids considera a baixa quantidade de células de defesa (CD4) presentes no sangue e/ou manifestações clínicas que podem incluir uma ou mais doenças oportunistas.2

HIV e tristeza podem andar lado a lado no momento seguinte ao diagnóstico, já que as incertezas são bem comuns nesse momento. A solução encontrada pela publicitária foi contar sobre o assunto para um círculo muito restrito de amigos e familiares. Mas, com o passar do tempo e empoderamento sobre a própria situação, Thais passou a compartilhar a experiência de viver com HIV.

"Quando eu me aceitei, ficou tudo mais tranquilo para que pudesse contar abertamente para todos. Um dos fatores que me ajudaram foi que todo mundo ficou comigo, me ajudando e aprendendo juntos", relembra.

O processo de entendimento da doença fez com que Thais enfrentasse os tabus sociais e escancarasse para o mundo a sua condição. Foram anos de muito amadurecimento para que chegasse ao livro “5 anos comigo”, onde fala abertamente sobre sua relação com o HIV, como realizou o sonho de construir uma família e ter dois filhos após o diagnóstico.

“Conheci o meu marido quando mudei de emprego. Foi muito difícil contar para ele, pois era um momento delicado e ao mesmo tempo constrangedor para mim, mas ele me entendeu muito bem. Fomos ao meu médico para ele tirar todas as dúvidas sobre um casal sorodiferente, que é quando um é soropositivo e outro não”, diz.

A gravidez foi um processo natural no relacionamento, mas teve que ser muito bem planejada e contar com acompanhamento médico. “Tive que seguir uma série de protocolos, pois tinha muito medo de infectar o bebê. No entanto, a gestação foi tranquila, sempre acompanhada pelo infectologista e obstetra até o nascimento, quando optei por uma cesariana, mas poderia ser normal no meu caso”.

Após o nascimento, o bebê teve que tomar um xarope por algumas semanas e Thais tomou um medicamento por 3 horas no intraparto. “Deu tudo certo, mas o mais frustrante para mim foi não poder amamentar”, relembra.

O processo de amamentação não é recomendável para mães com HIV, pois o risco de transmissão para a criança é muito elevado.

Um ano após dar à luz ao João, em uma gravidez não planejada veio a Olívia e ambos são negativos para o vírus HIV. O que representa uma conquista enorme da ciência sobre o vírus nesta batalha que teve início lá no ano de 1981.3

‘Minha vida mudou com o HIV’

Agora vamos conhecer a história de um youtuber de 25 anos, da cidade de Osasco, em São Paulo, que teve uma verdadeira reviravolta após ser diagnosticado com HIV aos 22 anos.

O susto inicial do diagnóstico de Hannis Ferreira e o medo de uma possível depressão aos poucos foram dando lugar a um aprendizado que modificou a sua vida Mas não foi fácil, e o jovem teve que passar por todas as etapas clássicas ao descobrir o HIV.

“O primeiro sentimento é de tristeza e desespero, uma sensação de que perdemos o nosso futuro. No entanto, no primeiro ano, já fui conhecendo outras pessoas soropositivas que me ajudaram a entender a doença e foi assim que consegui lidar com HIV de uma maneira mais natural”, contou.

O tabu e o preconceito ainda existem, mas não eram novidades na vida de Hannis, que há muito tempo já lidava com a homofobia, “O Youtube sempre esteve na minha mente, pois foi lá que encontrei as primeiras informações após o diagnóstico. Depois desta frustração profissional, resolvi correr atrás do que eu queria, que era passar informações para quem, assim como eu, chegou ao mundo do HIV completamente desinformado”.

Foi assim que nasceu o canal NossaHannis, que tem quase mil inscritos e fala abertamente sobre os desafios da vida de um soropositivo. “A minha vida mudou muito e (no meu caso) para melhor com o HIV, pois foi um susto que me fez ter mais atenção com a minha saúde, minha vida e minhas escolhas. A gente passa a se priorizar diante das situações do cotidiano”, contou.

Ao se redescobrir após o diagnóstico, Hannis passou a apoiar causas sociais e ser parte integrante de várias iniciativas como um grupo de WhatApp de apoio que já reúne 70 soropositivos de todo o Brasil. “Foram poucos anos de evolução pessoal que parecem mil anos. Está sendo incrível”, diz.

Segundo ele, cada vez que consegue ajudar uma pessoa que ainda está tomada pela tristeza após o diagnóstico, é como se estivesse ajudado o jovem Hannis, de 22 anos. “Eu não tive ninguém para cuidar de mim naquela época, e poder fazer isso por outras pessoas é impagável”.

Em Osasco, o projeto do WhatsApp entrou para o grupo de acolhimento do Programa Municipal de DST/Aids e outros projetos estão sendo desenvolvidos junto com a Câmara Municipal.

“Estamos desenvolvendo o primeiro encontro em prol da luta contra a Aids de Osasco dentro da Câmara Municipal e estou muito feliz de estar encabeçando esse projeto dentro da minha cidade”, disse, orgulhoso, o youtuber.

Rede de apoio

O grupo de WhatsApp criado por Hannis é apenas um dos exemplos de redes de apoio criadas para ouvir e compartilhar histórias com soropositivos. Mas isso não é novidade, já que os grupos de apoio da sociedade civil brasileira surgiram quase que simultaneamente à descoberta da Aids.

Na década de 1990, por exemplo, um grupo de pessoas com HIV se reuniu e decidiu criar a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+), que engloba diversas instituições que dão apoio e voz aos soropositivos.4

Atualmente, a RNP+ possui núcleos em todos os estados brasileiros e suas unidades podem ser encontradas no site do Ministério da Saúde, assim como outras entidades da sociedade civil voltada para o tema.

O que você sabe, de verdade, sobre

HIV/Aids?

Seja com o livro de Thais ou com o canal de Youtube de Hannis, o objetivo é informar as pessoas sobre a diferença entre HIV e Aids e quebrar tabus que colocam soropositivo como uma imagem estigmatizada de pessoas muito frágeis.

Acontece que, com o tratamento correto e sexo seguro, não existe nada que diferencie o soropositivo de quem não tem o HIV. Mas, para tirar todos os preconceitos, nada melhor do que entender de uma vez por todas o que significa tudo isso.

Diferença entre HIV e Aids

O HIV é vírus sexualmente transmissível que possui um período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença1.

Já a Aids é a doença causada pela HIV. Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. O vírus é capaz de alterar o DNA de células e fazer cópias de si mesmo, desta maneira acaba se multiplicando pelo organismo1.

Tratamento do HIV

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico1.

Por isso, segundo o Ministério da Saúde, o uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas1.

Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente os ARV a todas as pessoas vivendo com HIV que necessitam de tratamento. Atualmente, existem 22 medicamentos, em 38 apresentações farmacêuticas.1

Transmissão do HIV

Os pacientes soropositivos, que têm ou não Aids, podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações1.

Como evitar o HIV e o papel do Dezembro Vermelho

O preservativo, ou camisinha, é o método mais conhecido, acessível e eficaz para se prevenir da infecção pelo HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como a sífilis, a gonorreia e também alguns tipos de hepatites.

Existem dois tipos de camisinha: a masculina, que é feita de látex e deve ser colocada no pênis ereto antes da penetração; e a feminina, que é feita de látex ou borracha nitrílica e é usada internamente na vagina, podendo ser colocada algumas horas antes da relação sexual, não sendo necessário aguardar a ereção do pênis1.

Criado em 2017, o Dezembro Vermelho é uma campanha nacional no Brasil voltada para a prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis. O mês foi escolhido justamente por já fazer parte do calendário global, sendo 1º de dezembro o Dia Mundial de Combate à Aids.6

As ações do Dezembro Vermelho serão realizadas em parcerias entre o poder público, sociedade civil e organismos internacionais, de acordo com as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) para enfretamento da Aids e outras ISTs.6

Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)

A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV é um novo método de prevenção à infecção pelo HIV. A PrEP consiste na tomada diária de um comprimido que impede que o vírus infecte o organismo, antes de a pessoa ter contato com o vírus.7

O tratamento é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar seu organismo. Quem toma o PrEP diariamente, a medicação pode impedir que o HIV se estabeleça e se espalhe.7

O Ministério da Saúde, no entanto, alerta que a medicação só é eficaz se for tomada diariamente. Além disso, ela não protege contra outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, clamídia e gonorreia e, portanto, deve ser combinada com outras formas de prevenção, como a camisinha.7

Profilaxia Pós Exposição ao HIV (PEP)

Já a PEP é uma medida de prevenção de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, como violência sexual, relação sexual desprotegida ou acidente ocupacional com contato direto com material biológico.1

Trata-se de uma urgência médica, que deve ser iniciada o mais rápido possível - preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição e no máximo em até 72 horas. A duração da PEP é de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de saúde.1

Condutas que não transmitem HIV:

Alguns mitos, apesar de toda a informação presente atualmente, insistem em permanecer no imaginário popular. O efeito, no entanto, só causa preconceito e desconforto para quem é soropositivo.

Por isso, listamos algumas condutas que NÃO transmitem o vírus HIV e, portanto, são seguras:

  • Sexo com camisinha ou outra medida protetiva
  • Masturbação a dois
  • Beijo no rosto ou na boca
  • Suor e lágrima
  • Picada de inseto
  • Aperto de mão ou abraço
  • Sabonete/toalha/lençóis
  • Talheres/copos
  • Assento de ônibus
  • Piscina
  • Banheiro
  • Pelo ar

Se quiser saber mais sobre HIV e Aids e os métodos de prevenção, acesse as páginas do Ministério da Saúde sobre o assunto: