Receber um diagnóstico inesperado não é algo fácil, principalmente quando se trata de uma doença que pode ser muito prejudicial à saúde. Em agosto de 2020, a consultora de negócios Dirce Hipólito, hoje com 63 anos, recebeu uma notícia que não estava preparada para ouvir: a descoberta de um câncer de mama.

Foi tudo muito rápido, mas em um exame de rotina, ao fazer um ultrassom da mama, ela descobriu um caroço que precisaria ser analisado mais de perto. Naquele mesmo mês, ela fez uma biópsia e descobriu se tratar de um nódulo.

Neste instante um buraco se abriu sob meus pés e já estava me sentindo morta. No fim de setembro fiz a cirurgia de retirada do nódulo e de 3 linfonodos, na sequência veio o bloqueio hormonal e radioterapia”, nos relatou.

No início, ela não sabia como lidar com os sentimentos sobre a doença. No entanto, o fato de Dirce ter feito exames de rotina e ter descoberto o câncer em um estágio inicial favoreceu ao tratamento, que continua ainda hoje com o bloqueio hormonal.

Casada e com uma filha de 21 anos, Dirce viveu uma sensação que é compartilhada por milhares de mulheres todos os anos.

O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres.1

Mas cada diagnóstico traz consigo uma história, um tratamento, uma realidade diferente.

Muitos se perguntam como descobrir um câncer de mama. O diagnóstico nem sempre é óbvio, mas o sintoma mais comum é o aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, porém, alguns tumores podem ser de consistência branda, globosos e bem definidos1. O diagnóstico costuma ser um dos momentos mais delicados e difíceis para quem está com a doença, mas o apoio e a perseverança podem virar esse jogo e fortalecer na luta contra o câncer.

“Costumo dizer que a descoberta do câncer de mama nos joga no fundo do poço e cabe a cada um de nós fazer a escalada para sair dele. Com a ajuda da minha filha, meu marido, irmãos, e acima de tudo, de Deus, consegui juntar forças e fazer esta escalada rumo à cura”.

Câncer com leveza, é possível?

A sensação de terra arrasada é muito comum ao se receber um diagnóstico como esse. Em 2014, em uma viagem internacional, a empresária Patrícia Figueiredo acabou recebendo essa notícia. Muitas coisas passaram pela cabeça, inclusive um questionamento muito comum: “Por que eu?”.

“A única coisa que sabia na época era que o câncer era uma doença grave e que matava. Eu acreditava que era uma doença de idosos e não sabia como uma pessoa jovem como eu pudesse ser acometida”, lembra. Na época, ela havia acabado de completar 40 anos.

Assim como Dirce, Patrícia relata que a sensação era de perda de uma batalha, o que lhe causou um grande impacto na saúde emocional. “Passa tudo como um filme e eu penso: ‘mas já acabou?’. A gente acredita que vai morrer, mas o que eu tenho a dizer hoje para quem está passando por isso é que a medicina está avançada e o câncer de mama é um dos mais curáveis, principalmente quando detectado precocemente”, falou.

No caso de Paty, como ela prefere ser chamada, o câncer já estava um pouco mais avançado. Mesmo assim, com o tratamento e acompanhamento correto, foi possível curá-lo.

Uma nova perspectiva

De volta ao Brasil após o diagnóstico e a cirurgia, ela decidiu fechar o salão de beleza de que era dona e resolveu fazer algo que ela estava adiando há muitos anos: mudar de vida. “Eu criei um blog para relatar o que eu estava vivendo e comecei a ser procurada por mulheres na mesma situação que eu: descobrindo como lidar com o câncer de mama. Eu já tinha feito um processo de coaching e esse trabalho foi tão transformador”, disse.

Da mesma forma que Dirce viu uma nova chance quando estava no fundo do poço, Paty resolveu utilizar esse momento para mudar a perspectiva da própria vida. “Tinha um sonho de tirar um ano sabático e viajar por aí, me conhecer melhor, mas sabia que teria um ano de tratamento pesado pela frente. Fechei a empresa e resolvi viajar para dentro de mim. Foi ali que eu trouxe um trabalho de autoconhecimento, de mudança de hábito e um entendimento de quem eu era e como poderia me reconstruir”.

Hoje, Patrícia é coaching especializada em saúde e o seu principal trabalho é ajudar pessoas que estão passando por esse momento tão complicado como o de receber o diagnóstico de um câncer, por meio do projeto “Câncer com leveza”.

“Quando conto nossa história, eu inspiro as outras pessoas, mostro que é possível. E quando a gente inspira, essa pessoa pode virar fonte de inspiração também. É uma corrente do bem”, relata.

Mensagem de otimismo

Tanto Paty como Dirce contam orgulhosas o aprendizado e desafios vencidos ao longo do tratamento do câncer de mama, mas elas também ressaltam a importância da prevenção, mensagem passada todos os anos por meio do Outubro Rosa.

“Nós, mulheres, não devemos negligenciar a saúde. Busque um médico a qualquer sinal diferente que encontrar em sua mama. O câncer tem cura e as chances aumentam se descoberto no início”, essa é a lição que ficou para Dirce ao descobrir o câncer de mama após um exame de rotina.

No entanto, o diagnóstico é apenas o começo e o tratamento pode ser muito desafiador. Para quem está exatamente neste ponto e não sabe ainda como lidar com os sentimentos, ela também deixa uma mensagem: “Para as mulheres que estão em tratamento, assim como eu, com sintomas variados por causa da quimioterapia, radioterapia, bloqueio hormonal, lembre-se que somos fortes e que este momento é apenas uma tempestade e que vai passar. Seja otimista acima de tudo, não se entregue jamais, pois o estado psicológico influencia muito no resultado do tratamento”, falou.

Outra dica importante, e que serviu para Dirce, é tentar não sair da rotina. “Se possível, continue trabalhando, estudando, ocupando sua cabeça, pois isso faz toda a diferença no dia a dia. Para aquelas que estão com autoestima baixa por causa da queda do cabelo, pense que o cabelo cresce e que você é linda do jeito que está, ame-se acima de tudo”.

Rede de apoio

Quem também passou por essa jornada foi a Vanessa Pessôa da Silva, 36 anos. Após descobrir o câncer de mama em 2016 e passar pela primeira das três cirurgias que teve que fazer, ela decidiu criar um grupo de debate no Facebook chamado Câncer de mama - Prevenção é tudo!

"Pensei em ajudar as pessoas com a minha experiência. O grupo surgiu e, a cada dia, eu o alimentava com a minha história ou algumas notícias. O grupo foi crescendo e hoje temos pessoas do mundo inteiro", disse. Atualmente, apenas a página no Facebook conta com 20 mil membros.

Depois do Facebook veio um grupo de WhatsAPP apenas para mulheres, uma página no Instagram, um canal no Youtube e outro grupo no Telegram. "A intenção é que todos tenham acesso à informação de alguma forma", disse.

Esse é o mesmo sentimento da Patrícia, que leva o Câncer com Leveza para diversas plataformas, como no Telegram, onde possui um grupo com quase 1.500 membros. No Instagram, seus seguidores já são mais de 27 mil e o canal no Youtube conta com 24 mil inscritos.

E é assim que essas mulheres que passaram por todas as etapas do enfrentamento ao câncer de mama, cada uma a sua maneira, compartilham suas com quem mais precisa.

Outubro Rosa

O mês de outubro já é conhecido mundialmente como um mês marcado por ações afirmativas relacionadas à prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. O movimento, conhecido como Outubro Rosa, é celebrado anualmente desde os anos 1990. O objetivo da campanha é compartilhar informações sobre o câncer de mama e, mais recentemente, câncer do colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade.2

O movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama foi criado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos. A data é celebrada anualmente desde então. 3