Síndrome de Borderline: Conheça os Sintomas e Tratamentos

O Transtorno de Personalidade Borderline ou Síndrome de Borderline é uma síndrome mental caracterizada por sentimentos instáveis de humor, comportamento e relacionamentos, com mudanças de atitude súbitas e de forma impulsiva.¹

O que significa borderline? Na tradução livre do inglês, refere-se a algo que está na fronteira, no limite ou é incerto. Essa definição se dá justamente por causa da alternância emocional repentina, tratando-se de um problema de saúde que envolve as áreas de psicologia e psiquiatria, muito difícil de ser diagnosticado.²

A síndrome borderline é o mais comum dentre os vários transtornos de personalidade listados nas classificações diagnósticas atuais da psiquiatria.³ O diagnóstico, no entanto, não deve ser considerado para rotular, mas para orientar a rede de profissionais envolvidos no caso sobre as melhores alternativas de tratamento. Cabe aos profissionais que acompanham o caso, reforçarem com o paciente de que ele não se resume ao diagnóstico.

Transtornos de personalidade são padrões de pensamento ou comportamento que diferem de maneira perceptível do jeito que a maioria das pessoas pensa ou se comporta e que perduram ao longo do tempo. No caso do transtorno de borderline, especificamente, a pessoa costuma apresentar muitos comportamentos impulsivos e grande instabilidade emocional. ³

Quem sofre transtorno de borderline costuma sentir as emoções, sejam elas positivas ou negativas, de maneira muito intensa. O comportamento impulsivo é um traço importante e a pessoa pode expor-se facilmente a situações de risco, como o uso de álcool e drogas em níveis preocupantes, direção perigosa (que pode deixar as pessoas com o transtorno mais suscetíveis a acidentes de transito) e agressão contra si ou contra os outros.³

As pessoas que sofrem de transtorno de personalidade borderline tendem a se envolver em romances ou amizades de forma muito intensa e rápida, com frequência apresentando comportamentos controladores ou de ciúme doentio, que acaba por afastar os outros. Embora possa ser difícil, é muito importante tentar fazer com que a pessoa identifique esses comportamentos e possa buscar terapia.³

Para entender um pouco mais sobre os sintomas de borderline, convidamos o psicólogo analítico Kleber Marinho para desvendar as nuances desse diagnóstico, que muitas vezes podem passar desapercebidos pelo próprio paciente, amigos e familiares.

Kleber Marinho - Embora não haja uma causa específica e/ou pontual para o desenvolvimento da síndrome de borderline, existe uma frequente correlação entre uma base genética, aliada a determinados eventos, processos ou experiências traumáticas na infância como bullying, abuso sexual e negligência de cuidados básicos. 

No entanto, é comum esses indivíduos terem passado por episódios de instabilidade, cuidado precário, desatenção, negligência, situações corriqueiras de estresse, abuso físico e/ou psicológico e/ou sexual.

Enfim, toda sorte de má qualidade psicoafetiva na infância, por parte de seus pais, tutores ou cuidadores. Inclusive, no passado chegou-se até especular do transtorno de personalidade borderline ser uma variante do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, pois os indivíduos com síndrome de borderline comumente apresentam prejuízo na flexibilidade cognitiva, dificuldade de planejamento, atenção e outras características ligadas ao funcionamento do córtex pré-frontal, que afetam sobremaneira a capacidade de processar e integrar experiências traumáticas. Mas, essa hipótese não foi confirmada. 

Kleber Marinho - Naturalmente que cada caso tem suas características próprias e, portanto, deve ser tratado com respeito às suas particularidades. Entretanto, em termos práticos, o mais adequado é combinar medicamento com sessões de psicoterapia. Além disso, atualmente há uma série de outros recursos que podem beneficiar muito o tratamento, tais como: Acompanhante Terapêutico (AT), Terapia Ocupacional (TO), Arteterapia, atividades físicas, meditação, etc.

Kleber Marinho - Quando vamos pesquisar sobre o assunto, é comum encontrar a proporção de 3 mulheres para 1 homem diagnosticado com transtorno de personalidade borderline, mas o fato é que os dados epidemiológicos trazem a mesma prevalência da doença em ambos os gêneros, o que nos leva ao que já sabemos há muito tempo: no final das contas, as mulheres buscam mais auxílio em relação aos cuidados com a saúde, em geral.

Kleber Marinho - Lembrando que a estimativa que temos no Brasil é de cerca de 2 milhões de padecentes com borderline, podemos imaginar que exista cerca de 1 milhão de homens sem qualquer diagnóstico, levando sofrimento para si, além de familiares e todos em seu entorno. Isso naturalmente sem considerar ainda àqueles indivíduos não diagnosticados de ambos os gêneros. 

A questão do cuidado masculino com a saúde é algo que devemos falar e atuar todos os dias, pois não se trata de um problema exclusivo da saúde mental, que por si só já carrega estigma, tabu, preconceito e dificuldades em compreender que toda e qualquer doença deve ser tratada, deve ser procurado ajuda para o bem do paciente e de quem o circunda.

Kleber Marinho - A família e os conviventes em torno de quem tem borderline também necessita de ajuda terapêutica, pois lidar com tamanha intensidade, instabilidade, intempestividade e mudança de humor constante não é tarefa fácil nem para profissionais qualificados; então, o que dizer de quem está ali no olho do furacão, emocionalmente envolvido, sem qualquer filtro?
Primeiro é necessário entender a doença, os gatilhos, o pensamento e como se dão as relações afetivas, sentimentos e sensações da pessoa. É quase sempre tudo ampliado, multiplicado, em termos de sentimentos e afetos. Portanto, a família e os próximos precisam se apropriar do que consiste o transtorno, compreender e, mesmo assim, será difícil.
Mas, quanto mais empatia, compreensão e ajuda tiverem, poderão com certeza viver em paz e harmonia. E, mesmo quando as coisas saírem do trilho, saberão retornar

Por conta das mudanças no humor, o transtorno de personalidade borderline é muitas vezes confundido com a doença bipolar. No entanto, a alteração entre humor extremo e depressão nas pessoas com transtorno borderline geralmente ocorre dentro de horas ou dias, enquanto que na doença bipolar pode durar semanas ou meses.²

A doença bipolar também costuma apresentar crises mais intensas que o borderline, impossibilitando muitas vezes que os pacientes bipolares cumpram suas tarefas cotidianas.

Outra diferença entre borderline e a doença bipolar está no tratamento. Medicamentos que fazem a estabilização do humor podem ser efetivos para as pessoas bipolares por vários anos. Já o borderline exige diferentes cuidados, conforme cada crise.