Ao contrário do que geralmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não a causa da depressão.

Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células.O estresse pode desencadear a depressão em pessoas que já tenham predisposição genética.

A depressão é causada tanto por fatores genéticos e biológicos, quanto por fatores externos. Portanto, é preciso tomar cuidado ao discutir e apontar os gatilhos da doença.

Ela pode tanto surgir sem motivo aparente como ser a consequência de um evento importante, como divórcio, falência, perda de emprego ou perda de uma pessoa próxima. Estes acontecimentos são os chamados gatilhos, que desencadeiam sentimentos de tristeza e, em certos casos, a depender da predisposição, a depressão.

O que são gatilhos mentais e emocionais?

Os gatilhos mentais e emocionais são estímulos ou situações que desencadeiam uma resposta específica na mente ou nas emoções de uma pessoa, como memória ou trauma. Pode ser uma palavra, um cheiro, uma música ou até mesmo um tom de voz podem despertar sentimentos frequentemente reprimidos.

Gatilhos Mentais, são estímulos que ativam padrões de pensamento, crenças, lembranças ou processos cognitivos específicos. Ou seja, uma palavra que lhe foi dita ou uma imagem que você viu pode desencadear uma série de pensamentos ou memórias relacionadas.

Já os Gatilhos Emocionais, são estímulos que provocam respostas emocionais em uma pessoa. Podem ser eventos, palavras, gestos ou situações que trazem à tona sentimentos como alegria, tristeza, raiva, medo, entre outros. Por exemplo, quando você sente o perfume associado a uma pessoa querida que já faleceu pode desencadear tristeza.

Os gatilhos emocionais podem ser universais e individuais, e podem causar alguns danos.

Embora a psicologia reconheça a existência de gatilhos e emoções universais, é importante identificar os gatilhos individuais, aqueles que se desenvolvem ao longo da história de vida de cada pessoa.

Fazendo uma analogia para melhor entendimento, o gatilho universal seria a sensação de medo ao presenciar uma tempestade com raios e trovões, que pode desencadear uma reação comum de se afastar de portas e janelas, de procurar um local seguro para se abrigar.

Um gatilho individual, seria uma pessoa que passou por um trauma envolvendo raios e trovões, demonstrar sintomas de ansiedade ou pânico quando uma tempestade começa a se formar.

As emoções ativadas por gatilhos emocionais, por sua vez, podem resultar em reações físicas adversas, como:

  • Tremores;
  • dificuldade para respirar;
  • lágrimas ou sorrisos, e
  • até mesmo em comportamentos impulsivos, que vão desde respostas ríspidas até gritos ou mesmo agressões físicas e verbais.

Quais são os gatilhos mentais e emocionais responsáveis por desencadear a depressão?

Os gatilhos mentais da depressão são os fatores externos que podem originar ou potencializar quadros depressivos. Além das causas biológicas, a depressão geralmente também está relacionada a fatores externos.

Encontrar e entender a origem do gatilho, seja uma situação vivida na infância, uma experiência negativa em um relacionamento ou mesmo um evento traumático, é de extrema importância. A partir desse entendimento, é possível explorar mais profundamente as causas durante as sessões de psicoterapia, facilitando o processo de superação desse momento desafiador.

A seguir listamos alguns dos possíveis gatilhos:

Eventos estressantes

Situações difíceis podem funcionar como um gatilho para a depressão. Mas a reação de cada indivíduo diante dos eventos da vida é pessoal e única. Para certas pessoas, terminar um relacionamento amoroso que durou poucos meses pode ser um gatilho suficiente para desencadear uma depressão. A importância do evento em si, tem pouco a ver com a gravidade da depressão posterior.

Quando uma situação desagradável ocorre, é importante ficar ao lado da pessoa que a está enfrentando. As chances de essa pessoa desenvolver depressão serão menores se ela receber apoio de amigos e familiares.

Solidão

A solidão é outro gatilho importante da depressão. Estar afastado da família, separações ou rompimento de relações com os amigos, por exemplo, pode desencadear a doença em pessoas predispostas.

Consumo de álcool e drogas

A solidão é outro gatilho importante da depressão. Estar afastado da família, separações ou rompimento de relações com os amigos, por exemplo, pode desencadear a doença em pessoas predispostas.

Doenças crônicas

Problemas de saúde crônicos, os de longa duração, como câncer ou doenças coronárias, têm o potencial de gerar depressão. Nesses casos, a condição é desencadeada pelo fato de a pessoa ter que conviver com a enfermidade e, também, pela falta de perspectiva. Além disso, ferimentos severos na cabeça e hipotiroidismo podem também causar desequilíbrios químicos cerebrais que geram sintomas depressivos.

Parto

Algumas mulheres são particularmente vulneráveis a uma variação do transtorno chamada depressão pós-parto, um transtorno caracterizado por uma tristeza profunda, que pode ocasionar falta de interesse por atividades do cotidiano, insônia, cansaço, ansiedade, sentimento de culpa, falta de conexão com o bebê, além de outros sintomas.

A diferença entre tristeza e depressão

A depressão não está necessariamente alinhada aos acontecimentos. Tudo pode estar correndo muito bem na vida de uma pessoa deprimida, que vai continuar apresentando os sinais da doença até que busque tratamento. Com a tristeza, em geral, a pessoa tem consciência e sabe o que gerou o sentimento.

Confundir tristeza com depressão é bem comum. Mas enquanto a tristeza tende a ceder e a pessoa voltar a vida normal, a depressão não acaba, parece uma tristeza sem fim. Se você está enfrentando a depressão ou conhece alguém que precise de cuidados, saiba como ajudar.

É também bastante comum as pessoas ao redor de um deprimido, pensarem que é possível resolver só com força de vontade. Pessoas que estão enfrentando a depressão frequentemente ouvem frases como ‘apenas levante-se e dê a volta por cima’ ou ‘tem gente em situações muito
piores do que a sua’. Embora essas palavras possam ser ditas com boas intenções, geralmente não proporcionam ao paciente um ambiente confortável para compartilhar sua condição. Saiba o que não dizer a uma pessoa deprimida.

Atenção aos sintomas clássicos de depressão

Os sintomas da depressão podem variar de pessoa para pessoa e em intensidade. Para receber um diagnóstico preciso e tratamento adequado, é essencial consultar um profissional de saúde mental. Entretanto, alguns dos sintomas comuns de depressão incluem:

  • Tristeza intensa e persistente;
  • Sentimento de ansiedade ou sensação de vazio;
  • Perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram agradáveis, incluindo hobbies e interações sociais;
  • Alterações no apetite ou peso, com perda ou ganho significativos;
  • Problemas de sono, como insônia ou dormir em excesso;
  • Fadiga ou perda de energia persistente;
  • Sentimentos de desesperança, pessimismo ou inutilidade;
  • Dificuldade de concentração, tomada de decisões, com a memória comprometida;
  • Irritabilidade ou impaciência, mesmo em situações corriqueiras;
  • Dores ou desconfortos físicos persistentes que não têm uma causa médica óbvia;
  • Pensamentos suicidas e/ou tentativas de suicídio.

Como a depressão pode se manifestar de formas diferentes em cada pessoa, é possível que alguns experimentem sintomas psicossomáticos, como dores de estômago sem causa física, ansiedade, sensação de vazio, necessidade de isolamento social, falta de motivação, entre outros.

Como identificar os gatilhos da depressão?

Gatilhos emocionais são fatores que podem paralisar uma pessoa, causando grande sofrimento. Mas antes de aprender a lidar com esses gatilhos da depressão, é preciso identificá-los. Listamos algumas estratégias que podem ajudar você a identificá-los:

1. Observe suas mudanças de humor 

Observe como você se sente em diferentes situações e em como o seu humor pode variar ao longo do dia ou de um período.

2. Observe seus pensamentos recorrentes

Identifique padrões de pensamento negativo ou crenças autodepreciativas que surgem com certa frequência.

3. Saiba reconhecer os sintomas físicos

Pois a depressão pode estar associada a sintomas físicos como fadiga, distúrbios do sono e alterações no apetite.

4. Identifique eventos significativos na sua vida

Reflita sobre eventos recentes ou do passado que possam ter sido gatilho para o seu estado emocional atual, como acontecimentos estressantes, perdas, conflitos ou mudanças significativas na vida. Nada é sem importância ou pequeno demais, que você não deva considerar.

5. Avalie relacionamentos e ambientes

Observe os seus relacionamentos interpessoais e o ambiente ao seu redor, pondere para entender se eles podem estar influenciando o seu estado emocional.

6. Atenção ao excesso de autocrítica

Faça um exercício de autoavaliação para entender se você é muito crítico consigo mesmo e se isso contribui para os seus sentimentos de tristeza ou desesperança.

7. Atenção às mudanças na rotina

Alterações na rotina cotidiana, como mudanças no trabalho, na escola ou na vida pessoal, podem desencadear ou agravar o estado depressivo.

8. Mantenha um diário emocional

Faça anotações diárias dos seus sentimentos, pensamentos e atividades. Isso pode ajudar a identificar padrões e situações que desencadeiam emoções negativas.

9. Procure um profissional de saúde mental

Um profissional de saúde mental pode ajudar a identificar gatilhos e oferecer orientação sobre como lidar com eles de maneira eficaz.

Como lidar com os gatilhos emocionais?

Bom, o primeiro passo é reconhecê-los para que você possa começar a lidar com esses gatilhos emocionais. É desafiador, mas existem estratégias que podem ajudar a enfrentar essas situações de maneira mais saudável. Aqui estão algumas sugestões:

Reconhecimento e consciência da sua situação, é a fase de identificar os gatilhos. Esteja consciente das situações, pensamentos ou emoções que desencadeiam uma reação emocional desproporcional em você.

Aprenda a respirar conscientemente e quando um gatilho for acionado em você, respire profundamente e concentre-se no movimento da sua respiração. Esse exercício pode ajudar a acalmar o sistema nervoso e a trazer clareza para a situação.

Exercite reformular seus pensamentos e tente encontrar perspectivas mais realistas e positivas. Tente suprimir pensamentos negativos e automáticos que podem surgir com os gatilhos.

Coloque desafios saudáveis na sua vida, engaje-se em atividades que você gosta e que podem ajudar a desviar a atenção dos gatilhos. Isso pode incluir hobbies, exercícios físicos ou leituras.

Invista em Autocuidado, sinta o prazer de se cuidar, seja através da adoção de uma alimentação saudável, exercícios físicos regulares, cuidados para ter um sono adequado e outras práticas que promovam o seu bem-estar.

Conversar com pessoas da sua confiança, é sempre bom compartilhar os sentimentos com alguém de confiança, onde você sinta apoio e perspectivas diferentes sobre a situação.

Invista em práticas como mindfulness e relaxamento, pois aprender a estar presente no momento atual, sem julgamentos, pode ajudar a lidar com os gatilhos de forma mais equilibrada. Práticas como meditação, ioga, ou mesmo um banho quente, podem ajudar a acalmar a mente e o corpo.

Faça terapia, pois um profissional de saúde mental pode fornecer técnicas e estratégias específicas para lidar com gatilhos de forma eficaz.

Evite ambientes, pessoas ou situações desencadeantes, sempre que possível ou minimize a exposição a gatilhos conhecidos, especialmente se estiver em um momento mais vulnerável.

Lembre-se de que é normal ter gatilhos e que está tudo bem pedir ajuda ou dar a si mesmo o tempo e o espaço necessários para lidar com eles, seja compassivo/a consigo mesmo.

Lidar com gatilhos pode ser um processo contínuo

Para finalizar, lembramos que identificar gatilhos emocionais que causam depressão pode ser um processo gradual e que, em alguns casos, pode ser útil contar com o apoio de um terapeuta ou psicólogo para auxiliar nessa jornada.

Os gatilhos da depressão são variados e podem surgir a partir de diversas fontes, como experiências traumáticas, eventos estressantes, desequilíbrios químicos no cérebro e fatores genéticos. Identificar e compreender esses gatilhos é crucial para promover o tratamento e o cuidado adequado às pessoas que enfrentam tal condição.

Ao reconhecer os fatores desencadeantes, é possível adotar estratégias eficazes para lidar com a depressão e buscar apoio profissional adequado. É importante ressaltar também, que aquilo que funciona para o seu amigo, pode não funcionar para você.

Experimente diferentes estratégias e descubra o que é mais eficaz para você e, principalmente, não hesite em procurar apoio profissional, porque a depressão é uma condição médica séria e não é simplesmente uma tristeza que se cura só. O tratamento pode envolver terapia, medicamentos ou a combinação de ambos, dependendo da gravidade e das necessidades individuais do/a paciente.

Referências

  1. Causes - Depression in adults. National Health System – UK. [acesso em 23 de Out de 2023].
  2. Depression: What You Need To Know. National Institute of Mental Health [acesso em 23 de Out de 2023].
  3. Depressão. Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde. [acesso em 19 de Out de 2023].
  4. Gatilhos emocionais: o que são e como lidar com eles? Vittude. [acesso em 23 de Out de 2023].
  5. Depressão: sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Hospital Santa Mônica (Ensino e Pesquisa). [acesso em 31 de Ago. de 2023].
  6. Depressão psicótica: principais sintomas e tratamento Hospital Santa Mônica (Ensino e Pesquisa). [acesso em 01 de Set. de 2023].
  7. Imagens: Freepik
     

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