Você já teve a impressão de que algumas épocas do ano parecem ser mais difíceis de lidar com as nossas próprias emoções? Mesmo vivendo em um país tropical, onde as estações são bem definidas, alguns fatores relacionados ao clima podem, sim, interferir na nossa saúde integral.

Em países de clima temperado, onde os invernos são mais rigorosos, há estudos que apontam que a saúde mental de seus habitantes pode ser mais afetada.1 Mas, e no Brasil? Como a mudança de temperatura afeta na saúde física e mental da população?

É só a temperatura abaixar alguns graus que a frase “leva um casaco” vira mais do que uma recomendação e se torna quase uma obrigação. Isso é bastante comum entre as famílias porque muitos já sabem dos riscos de saúde que estamos sujeitos com a chegada do frio.2

Mas o inverno provoca muito mais mudanças no nosso corpo e no nosso comportamento do que apenas o combate as tradicionais gripes. Confira a seguir como nossa saúde é afetada no inverno:

Coração

Segundo publicação do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, os meses mais frios mudam os hábitos das pessoas e podem, inclusive, aumentar a incidência de eventos cardíacos. O cardiologista Cesar Jardim disse em artigo publicado na página do hospital que muitas pessoas deixam de praticar exercícios no inverno e passam a comer alimentos mais calóricos, pela sensação de bem-estar e aquecimento corporal que eles proporcionam. Contudo, ressalta, isso não é benéfico à saúde cardiovascular. “O exercício físico aquece o corpo, melhora a disposição e existem muitos alimentos que também podem proporcionar esse bem-estar, sem excesso de calorias”, destaca.3

Ele explica ainda que o tabagismo, hipertensão arterial, sedentarismo, obesidade e estresse são fatores de risco para o infarto. “É imprescindível realizar check-up cardiológico anualmente, praticar exercícios físicos com orientação de um profissional e, ainda, consumir alimentos saudáveis, evitar gorduras e sal em excesso”, completa Jardim.3

Alimentação

No inverno, com as baixas temperaturas, as necessidades energéticas do organismo humano aumentam em função da necessidade de se produzir mais calor e, consequentemente, manter a temperatura corporal normal. Assim, é natural haver aumento do apetite e uma maior necessidade energética nos dias frios. Porém, é importante ter cuidado nos “exageros” típicos do inverno, principalmente naqueles alimentos muito calóricos e/ou ricos em gorduras.4

Pele

O frio e a diminuição de umidade podem levar a desidratação e a descamação da pele, que podem ser acentuadas por exposição a banhos quentes e excesso de sabonetes. Em pacientes atópicos, também pode ocorrer a intensificação da resposta inflamatória cutânea, levando a piora da dermatite e, em alguns indivíduos, quadros de urticária induzida por frio.5

Nesses casos, a prevenção vem com menor exposição ao frio e evitando banhos muito quentes ou excesso de sabonetes, sempre mantendo a pele hidratada. Não esquecer do protetor solar mesmo no inverno.5

Metabolismo

O corpo humano possui dois tipos de tecido adiposo: o branco e o marrom. A principal função do primeiro é o armazenamento de gordura, com a finalidade de reserva energética. Por outro lado, o tecido adiposo marrom tem como principal função a termogênese, que é a capacidade de queimar calorias para gerar calor, o que estimula o emagrecimento.6

Estudos mostram que, quando expostos ao frio durante um tempo, meia hora em 16°C, por exemplo, aumentava a captação do tecido adiposo marrom, mostrando uma relevância fisiológica. Então esse tecido participa do metabolismo humano.7

Para os adultos, a atividade metabólica da gordura marrom, quando aliada às baixas temperaturas, entre 12ºC e 19ºC, pode levar à redução do peso. "Além do frio, os exercícios de repetição, por um período prolongado, contribuem para a ativação da gordura marrom, eficaz contra a obesidade, a resistência à insulina, ao diabetes e até à hipertensão”, explica o fisiologista do esporte do HCor em publicação do próprio hospital.6

Hidratação

As baixas temperaturas provocam alterações no organismo, que diminuem a sensação de sede e fazem com que muitas pessoas acabem reduzindo o consumo diário de líquido. Com o suor no verão, sentimos mais sede. 8

Porém o que pouca gente sabe é que o risco de desidratação também existe no inverno. Além de nos fazer suar menos, as baixas temperaturas provocam alterações no organismo que diminuem a sensação de sede. Isso faz com que muitas pessoas acabem reduzindo o consumo diário de líquido, o que pode ser prejudicial à saúde.8

A falta de sede que sentimos no inverno se dá principalmente por causa das mudanças sofridas por um hormônio conhecido como ADH, ou antidiurético. Nos dias frios, essa molécula desencadeia reações que fazem com que a circulação sanguínea fique concentrada nos vasos centrais para preservar o calor do corpo. Esse processo traz uma sensação interna de que estamos suficientemente hidratados. Consequentemente, nosso organismo leva mais tempo para se dar conta de que precisa de líquido.8

Hormônios

Os hormônios controlam as principais funções biológicas da resposta ao estresse, crescimento, metabolismo e reprodução. Em animais, esses hormônios apresentam sazonalidade, com diferentes pontos de ajuste para diferentes estações do ano.9

Uma pesquisa revelou que os hormônios presentes no organismo humano também são capazes de sofrer alterações de acordo com a estação do ano. Foram analisados milhões de exames de sangue e hormonais e estabelecidos padrões sazonais claros: hormônios voltados para reprodução, metabolismo, estresse e lactação tiveram pico no verão e outros hormônios tiveram o pico no inverno ou primavera, incluindo os hormônios sexuais testosterona, estradiol e progesterona, além do hormônio de crescimento. Mas também há casos de hormônios com pico no inverno.9

Vários hormônios apresentaram um pico secundário, formando um ritmo semestral. Essa variação, diz a pesquisa, aumenta com a latitude por causa da maior ou menor incidência de luz solar nas estações do ano.9

No frio ou no calor, cuide da saúde

Como vimos, a mudança da temperatura pode provocar diversas mudanças no corpo. Mesmo com aquela preguiça natural de dias mais frios, tente manter a saúde em dia e sempre com acompanhamento profissional.8

Não deixe de fazer os exercícios físicos. Cuidados com a temperatura, hidratação e com o tipo de exercício nesta época do ano são fundamentais. Exercícios de aquecimento antes da atividade têm importância redobrada no frio, sendo ainda mais prolongados.8

Durante o frio, os profissionais preferem trabalhar com “pausas ativas”, ou seja, o descanso entre uma série e outra ocorre com um trote ou caminhada. Uma alternativa para fugir do frio é migrar para um ambiente indoor.8

No inverno também é importante manter uma alimentação saudável, que ajuda a manter a imunidade corporal em uma época de maior disseminação de doenças virais. Após o contágio com doenças respiratórias como gripes e resfriados, a importância da boa alimentação se mantém. 10

Para favorecer a saciedade dos alimentos, é preciso lembrar sempre de mastigar bem os alimentos, da mesma forma, comer e beber líquidos com calma e não ficar muito tempo sem se alimentar. O ideal é fazer pequenas refeições com intervalos de três horas, isso favorece não exagerar em uma próxima refeição. Priorizar o café da manhã como a principal refeição com direito a cereais, frutas, suco de frutas, leite e derivados.11

Caso note algo errado com seu corpo ou com a sua mente, procure ajuda especializada e investigue o que pode estar acontecendo.

Referências bibliográficas:

1. Revista de la Asociación Española de Neuropsiquiatría. Trastornos afectivos estacionales, "winter blues" Seasonal affective disorders, "winter blues". Disponível em: https://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0211-57352015000200010. Acesso em: 2022, maio;

2. Governo do Estado de São Paulo. Durante o inverno, cuidados com a saúde devem ser redobrados. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/durante-o-inverno-cuidados-com-saude-devem-ser-redobrados/. Acesso em: 2022, maio;

3. Hospital do Coração. Riscos de infarto aumentam em até 30% no inverno. Disponível em: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/cardiologista-do-hcor-alerta-para-importancia-do-check-up-preventivo-para-homens-acima-dos-35-anos/. Acesso em: 2022, maio;

4. Hospital do Coração. A importância da dieta equilibrada durante o inverno. Disponível em: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/a-importancia-da-dieta-equilibrada-durante-o-inverno. Acesso em: 2022, maio;

5. Hospital Israelita Albert Einstein. Inverno e os efeitos em nosso organismo. Disponível em: https://www.einstein.br/noticias/noticia/inverno-e-os-efeitos-em-nosso-organismo. Acesso em: 2022, maio;

6. Hospital do Coração. Gordura marrom contribui para queima de calorias no frio. Disponível em: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/gordura-marrom-contribui-para-queima-de-calorias-no-frio/. Acesso em: 2022, maio;

7. Universidade de São Paulo - Jornal da USP. Ativado pela melatonina, tecido adiposo marrom pode ser aliado no combate à obesidade. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/tecido-adiposo-marrom-e-possivel-aliado-no-combate-a-obesidade/. Acesso em: 2022, maio;

8. Hospital do Coração. Fisiologista do esporte do HCor alerta para os cuidados com a hidratação no inverno. Disponível em: https://www.hcor.com.br/imprensa/noticias/fisiologista-do-esporte-hcor-alerta-para-os-cuidados-com-hidratacao-no-inverno/. Acesso em: 2022, maio;

9. Avichai Tendler, Alon Bar, Netta Mendelsohn-Cohen. Hormone seasonality in medical records suggests circannual endocrine circuits. Disponível em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2003926118. Acesso em: 2022, maio;

10. Ministério da Saúde. Manter hábitos saudáveis ajuda a enfrentar a gripe. Disponível em: https://saudebrasil.saude.gov.br/eu-quero-me-alimentar-melhor/manter-habitos-saudaveis-ajuda-a-enfrentar-a-gripe. Acesso em: 2022, maio;

11. Hospital Israelita Albert Einstein. Entenda como funciona seu corpo no inverno e alimente-se com cautela. Disponível em: https://www.einstein.br/noticias/noticia/entenda-como-funciona-seu-corpo-no-inverno-e-alimente-se-com-cautela. Acesso em: 2022, maio;

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