Comunicação não violenta significa se comunicar de forma empática, autêntica e com compaixão. A especialista Carolina Nalon conta como ela pode nos ajudar a lidar com uma pessoa deprimida.
Ao conviver com alguém que tem depressão, podemos não saber qual a melhor forma de conversar com ele ou ela sobre sentimentos e angústias. Será que devemos exigir que se trate? Devemos falar apenas sobre situações positivas?
Para Carolina Nalon, especialista em Comunicação Não Violenta e fundadora do Instituto Tiê, comunicar-se com empatia e autenticidade é forma de apoiar quem tem depressão. A CNV é uma ferramenta desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg para criar relações mais harmoniosas e pacíficas.
Isso significa, por exemplo, não julgar e não agir de forma reativa. Portanto, exigir que a pessoa com depressão se trate pode ser uma ação bem intencionada, mas talvez não seja o melhor caminho.
Em entrevista ao Pode Falar, Carolina Nalon nos contou como é se comunicar com empatia e autenticidade e como a CNV pode nos ajudar a lidar com quem tem depressão:
Pode Contar- Como a comunicação não violenta entrou na sua vida?
Carolina Nalon - Uma amiga me deu o livro do Marshall Rosenberg, psicólogo que sistematizou essa psicologia. No início achei estranho, pensei que ninguém realmente fala desse jeito sabe? Achei o livro um pouco duro. Mas fiquei interessada pois sabia que não lidava bem [quando me comunicava], que era muito reativa. Então resolvi estudar o assunto e praticar.
Mais tarde, conheci o Felipe Nastari. Eu trabalhava como coaching na época e ele me falou que dava um workshop sobre comunicação não violenta. Comecei a fazer vários outros cursos e fui percebendo que nunca tinha oferecido empatia para a minha mãe. Eu tinha 26 anos e embora sentisse muita empatia por ela, não sabia demonstrar. Então comecei a colocar a empatia e a autenticidade em prática. Nada aconteceu em um passo de mágica, mas foi possível.
Pode Contar - Você aprendeu a conversar com pessoas que têm opiniões diferentes das suas?
Carolina Nalon - Sim, com pessoas que pensam diferente e também com pessoas que se machucam muito facilmente com o que a gente diz, ou que são muito reativas. Às vezes pensamos que estamos sendo autênticos, mas estamos cometendo um sincericídio.
Pode Contar - O que é o sincericídio?
Carolina Nalon - Existe uma diferença entre autenticidade e sincericídio. Quando você simplesmente fala tudo o que pensa, está cometendo um sincericídio. Ou seja, está distribuindo julgamentos. Por exemplo, no caso de alguém com depressão, acontece muito de a outra pessoa falar “mas isso é bobeira” ou “por que você não sai de casa?”.
Ela pensa tudo isso, tem todos esses julgamentos contra quem tem depressão e não filtra nada na hora da conversa. Sob o pretexto de estar sendo verdadeira, acaba julgando e isso é um grande equívoco.
Pode Contar - Como conversar com uma pessoa em depressão sem cometer sincericídios?
Carolina Nalon - No caso de uma pessoa com depressão, a primeira coisa que devemos trabalhar é a empatia para depois trabalhar a autenticidade. Antes precisamos dar espaço para que fale sobre ela. Imagine, por exemplo, a mãe de um filho deprimido. Inevitavelmente, aquilo tem um impacto sobre ela, pois quer que o filho se trate e se cure.
Então ela pode adotar a autenticidade e dizer: “Filho, quando ofereço diversas oportunidades de tratamento e fico pegando no seu pé, perguntando se está se tratando direitinho, sei que isso pode te sufocar e gerar uma angústia. Mas gostaria muito de saber que você está bem. Ao mesmo tempo não quero que você, que já sente o peso da depressão, sinta o peso da minha angústia também. Queria que você se sentisse confortável para viver o que está vivendo”.
Essa é uma forma de se comunicar com empatia. Você fala dos seus sentimentos, necessidades, pedidos e observações. Assim, permite que haja uma abertura e fluidez na relação.
Pode Contar - E a autenticidade? Como praticá-la?
Carolina Nalon - Se eu quero ser autêntico, tenho que substituir meus julgamentos por observações. Em vez de falar para a pessoa com depressão que ela não quer se curar pois não seguiu o tratamento naquele dia, falo sobre meus sentimentos e me responsabilizo por eles.
Ou seja, não devo dizer: “Estou triste porque você não tem força de vontade e não quer melhorar”. Devo dizer: “Eu estou triste porque você é muito importante para mim”. Portanto, não estou triste pelo estímulo que aquela pessoa me causa, mas sim porque tenho uma necessidade que não está sendo atendida.
Pode Contar - Como, então, colocar a comunicação não violenta em prática?
Carolina Nalon - Quando você sentir que a outra pessoa está falando com uma carga emocional, seja por meio de um desabafo ou porque está sendo agressiva, escute com atenção. Quando ela finalizar sua fala, fale algo como: “estou vendo que isso é importante para você. Deixe-me ver se entendi: você está se sentindo mal por tal motivo?”.
Você não deve estar na posição de dar um diagnóstico para o que ela está sentindo ou pensando. Na verdade, é um exercício de rebobinar a fita. Repita o que ela disse para checar se entendeu bem. Então ela vai dizer “sim” ou “não” e vocês vão seguir a conversa. Isso já faz uma diferença enorme.
* Conteúdo produzido a partir de entrevista realizada com Carolina Nalon, Coach especialista em Comunicação Não Violenta. Graduada pela Esalq-USP em Biologia e coach especializada em Coaching Ontológico pelo Instituto Appana.
Referências:
SABRAGE.MDY.18.12.0440