Ainda adolescente, Fernanda passou por um processo em que a mãe foi diagnosticada com tumor cerebral e depressão, e aprendeu a lidar com isso com uma boa dose de empatia.

A paulistana Fernanda Geppert, 30, convive há 13 anos com a depressão da mãe. Nesse tempo aprendeu que muitas atitudes da mãe, que antes não compreendia, estavam relacionadas à depressão, e que ter empatia era a melhor forma de lidar com o doença, que tem seus altos e baixos. Com o tempo, passou a ser mais compreensiva, a se fazer mais presente e a respeitar as oscilações de humor da mãe, sempre incentivando que ela buscasse o tratamento. Leia abaixo seu depoimento:

Em 2005, minha mãe começou a ter alguns comportamentos estranhos. Ficou mais deprimida, acabou ficando mais em casa e deixando de lado a vida ativa que ela sempre levou, de fazer esportes, de sair, de estar com amigos em programas sociais e culturais, e passou a ficar mais quieta, mais reativa. Eu, como era adolescente na época, só pensava: ‘Ah, minha mãe está sendo chata comigo’. Não pensava que ela pudesse, de fato, estar com depressão, ainda mais porque naquela época não se falava tanto na doença.

Algum tempo depois, ela começou a ter outros sintomas, como tontura, vômitos, e até ficava desnorteada. Um dia ela desmaiou e, ao fazer exames com um neurologista, descobriu que estava com um tumor benigno no cérebro. Ela passou por uma cirurgia para retirar o tumor, mas isso fez com que a depressão ficasse em segundo plano, porque queríamos que ela se recuperasse da retirada do tumor. Afinal, tinha sido uma cirurgia delicada. Foi só depois que os médicos a diagnosticaram de fato com depressão e com insônia crônica decorrente do tumor, e que teria de fazer tratamento para os dois problemas.

Há 13 anos, ela trata a depressão com medicamentos, e é acompanhada por psiquiatra regularmente. E foi nesse meio tempo em que comecei a aprender a lidar com os altos e baixos da doença, com as fases em que ela está bem, e com as outras em que ela não está tão bem.

O humor dela oscila. Quando eu fui crescendo e amadurecendo, percebi o quanto fazia diferença essa relação mais empática, cuidadosa e vigilante da minha parte, de perceber quando ela não estava bem. Eu dizia: ‘Mãe, você não está bem. Você não quer ir ao psiquiatra para ver se o medicamento continua adequado, ou se não é preciso trocar?’ ou ‘Vamos fazer uma viagem, vamos passear ou fazer alguma coisa que você gosta?’.

Hoje eu sempre atuo sem julgamentos. Eu já fui de brigar, bater de frente e não entender por que ela estava agindo daquela forma, mas compreendi que não era porque ela queria, mas porque aquilo era causado por uma doença para a qual ela não tinha forças para agir sozinha.

Lidando de perto, eu percebo o quanto a depressão é incapacitante. Então, o primeiro ponto que aprendi foi não julgar. Aprendi realmente ‘vestir a roupinha’ da minha mãe, pensar que ela não está no estado natural dela, que essa doença pode acontecer com qualquer um e que, claro, é preciso tratamento, mas principalmente é necessário ter empatia, amor, cuidado e palavras doces. Também não dá para ir pela linha do ‘ah, vai ficar tudo bem’, porque isso não vai acontecer se não houver tratamento.

Quando ela ficava sem esperança, sem expectativas, aprendi a dizer ‘Sim, está ruim, mas nós estamos juntas nessa. O que posso fazer para te ajudar? Vamos ao médico juntas? Vamos assistir a uma série na TV juntas? Você quer comer alguma coisa diferente?’. Acredito que quando se enfrenta essa situação, essas pequenas atividades, feitas com alguém que você gosta, fazem toda a diferença. Isso eu senti na pele.

Na vida da minha mãe, o esporte fez muita diferença. Ela sempre foi uma pessoa que gostou de ser ativa e de se alimentar bem para ter uma vida equilibrada, e o círculo social que ela adquiriu nesse meio também trouxe benefícios. Hoje o esporte é algo que ela não larga, mesmo quando está em uma fase mais depressiva, pois sabe o quanto isso faz bem.

Aprendi também a ser compreensiva, pois há dias em que ela diz que não está com vontade de fazer nada, e ela aprendeu a não se culpar por isso. Quando ela quer ficar em casa o dia inteiro assistindo séries, ela simplesmente respeita essa vontade e cabe a mim também fazer um exercício de empatia e dizer: ‘Tudo bem, se você não está bem hoje, fique em casa mesmo. Não será um dia perdido, mas sim um dia que você vai dedicar para você’.

E, claro, eu ligo durante o dia, mando mensagens, pergunto se está tudo bem e me faço muito presente, afinal, a solidão é uma das emoções ligadas à depressão. Com isso, tento fazer com que ela perceba que estou por perto mesmo não estando fisicamente ali. Quando você lida com alguém com depressão, você precisa estar perto. Hoje, as crises depressivas dela estão cada vez mais espaçadas, mas ela continua com o tratamento.

SABRAGE.MDY.18.10.0349

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