Ter predisposição genética a depressão não é uma sentença; com alguns cuidados, é possível tratar as crises e voltar ao normal
Você sabia que a depressão pode passar de pai para filho? Sim, a doença tem componentes genéticos1 que fazem com que descendentes de deprimidos tenham mais chance de desenvolver o transtorno ao longo da vida. Mas isso está longe de ser uma condenação a um estado permanente de desânimo e tristeza.
Quem tem familiares de primeiro grau (pais ou filhos) com depressão pode ter um risco de duas até três vezes maior de desenvolver a doença, em relação a quem não apresenta casos na família[1 Use essa informação a seu favor, para se cuidar e ficar mais atento aos sinais e sintomas da doença, procurando auxílio médico e seguindo o tratamento com consistência.
A psiquiatra Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP) conta que há muitos fatores que aumentam as chances de desenvolver depressão.
“As variações hormonais durante a amamentação e a menopausa, por exemplo, predispõem ao aparecimento da depressão em quem tem predisposição genética”, explica.
Carmita diz que a predisposição genética é determinada pelo histórico familiar, sem a necessidade de exames sofisticados. A médica conta que basta contar ao psiquiatra se há casos da doença na família durante a consulta. “Vemos já pela história familiar, por um relato de que alguma tia passou por um momento difícil, ou os pais, ou avô”, explica.
Não existem grandes diferenças entre a depressão transmitida pelos genes e a que surge em pessoas sem histórico familiar do transtorno. O que muda é a vulnerabilidade para desenvolver o quadro. Um exemplo: quem passa por uma situação de luto e não tem predisposição genética a ter depressão, na maioria dos casos fica profundamente triste por algumas semanas – dada a gravidade do evento – mas consegue reagir, seguindo com suas atividades cotidianas, sem apresentar sintomas de depressão.
Já aquelas pessoas que têm tendência genética a desenvolver depressão podem se abalar ainda mais e desenvolver a doença em decorrência da perda do ente querido. A mesma regra vale para qualquer outra situação adversa na vida, pois estas são consideradas gatilhos para o início de uma crise.
Por isso, se você tem familiares que são ou já foram deprimidos, fique atento aos sinais descritos abaixo pela psiquiatra e procure ajuda o quanto antes apresentar algum deles:
Não se culpe jamais por estar passando por um momento difícil como a depressão. Durante esse período, não se sobrecarregue, e isso também vale para quem gostaria de evitar uma crise depressiva.
“Há pessoas que têm predisposição genética a ter depressão e mesmo assim exigem demais de si, não respeitam a necessidade do corpo de ter uma quantidade adequada de horas de sono e também de qualidade de vida”, alerta Carmita. Lembre-se de desacelerar e respeitar o corpo, pois são passos importantes tanto para evitar que a depressão se instale como também para o tratamento dela.
A ajuda de um especialista como um psiquiatra vai fazer toda a diferença, porque com ele, será possível traçar um tratamento efetivo para o problema.
Um bom estilo de vida e principalmente a prática de exercícios físicos regulares[3] podem ajudar a evitar novos episódios de depressão. “A atividade física libera substâncias realmente protetoras contra a depressão, como endorfinas e dopaminas – mas é preciso que o exercício seja regular”, aconselha Carmita.
Além disso, manter uma rede de relacionamento social, dormir bem e se alimentar de forma saudável são atitudes que protegem contra a depressão.
Referências
[1] Falk W. Lohoff. Overview of the Genetics of Major Depressive Disorder. Current Psychiatry Reports. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3077049/
[2] Mayo Clinic. Depression (major depressive disorder). Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/depression/symptoms-causes/syc-20356007
[3] Lynette L. Craft, Frank M. Perna. The Benefits of Exercise for the Clinically Depressed. The Primary Care Companion to the Journal of Clinical Psychiatry. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC474733/
Entrevista realizada com psiquiatra Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP).
SABRAGE.MDY.18.12.0443
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