O Outubro Rosa é um mês muito conhecido pela questão da prevenção do câncer de mama. Diversas ações são realizadas a fim de promover o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. No entanto, pouco se fala sobre os aspectos emocionais envolvidos durante todo o tratamento.¹

Antes de chegarmos aos relatos de quem, de fato, passou pela experiência do câncer de mama, vamos conhecer alguns números sobre essa doença no Brasil, segundo o Instituto Vencer o Câncer:

🎀 No Brasil, é o câncer mais frequente entre as mulheres, com mais de 65mil casos novos a cada ano; ²

🎀 Aproximadamente 75% da população depende exclusivamente da saúde pública;³

🎀 Milhares de mulheres podem ter qualidade de vida mesmo com câncer avançado;³

🎀 O câncer de mama é um dos tipos mais curáveis da oncologia, porém sua chance de cura depende muito do seu estágio.²

Depois do diagnóstico de câncer de mama, algumas mulheres começam a quimioterapia, outras não precisam de tratamento quimioterápico; algumas pacientes fazem primeiro uma cirurgia; outras não; algumas iniciam a imunoterapia, outras, não precisam.4

E é impossível passar ileso pelos sentimentos diversos, acontecimentos inéditos, adaptações necessárias, e momentos particularmente desafiadores envolvidos no tratamento oncológico. O diagnóstico costuma aparecer de modo inesperado, produzindo susto e choque. Ainda, a impossibilidade de prever os efeitos do tratamento no corpo e o prognóstico, são fatores que frequentemente causam angústia, medo, preocupação, frustração, estresse e tristeza.5

Parte dos impactos emocionais do câncer está relacionada às inevitáveis mudanças causadas no corpo, seja pela doença ou pelos efeitos das terapêuticas (cirurgia de ressecção, quimioterapia, radioterapia, etc) – convocando o paciente a fazer o luto da própria imagem, de um corpo que passará a ser outro.5

Para entender melhor essa relação entre o câncer de mama e a saúde mental, conversamos com três pacientes que passaram pela doença, enfrentaram diferentes desafios nessa jornada e que contam suas histórias de superação do câncer de mama.

Rosa Maria, 46 anos

Rosa Maria Marques de Oliveira

A Rosa Maria Marques de Oliveira, 46 anos, passou por essa experiência do diagnóstico em 2013, durante o período de amamentação de seu filho caçula.

"Naquele momento, meu coração estava cheio de medo, mas minha primeira ação foi pedir a Deus uma oportunidade para viver e ver meus filhos crescerem", recorda.

Segundo ela, a fé foi muito importante nesse período, onde ela precisou de força por ela e pelos filhos, um de 10 anos e outro de apenas 4 meses. O tratamento contou com uma mastectomia radical bilateral e sessões de quimio e radioterapia.

Ela conta que a família foi parte fundamental na recuperação. Com laços ainda mais fortalecidos, veio a força necessária para encarar cada etapa do tratamento.

"Foi fundamental esse apoio. Nós somos uma família unida e eles estiveram ao meu lado em todos os momentos", conta.

As amigas também foram decisivas, quando decidiram lançar campanhas nas redes sociais para compartilhar as histórias e necessidades de Rosa. "A resposta foi incrível. Recebi apoio e doações, não apenas de amigos e familiares e muitas pessoas que contribuíram se tornaram amigos próximos. Isso mostrou como as conexões humanas podem ser profundas e significativas, mesmo em momentos difíceis", explica.

"É realmente admirável como o apoio da família pode ser um pilar fundamental durante uma jornada de tratamento contra o câncer. Sem dúvida, ter o suporte emocional e prático de amigos e familiares faz uma diferença significativa na saúde mental e no bem-estar de quem passa por essa difícil experiência, e eu sou prova viva disso", conclui.

Agora, Rosa Maria mantém um projeto social chamado Espaço Rosinha, onde ajuda outras pessoas a passarem pelo câncer de mama.

Barbara Araújo, 38 anos

Quando a filha ainda tinha 4 anos, a Bárbara recebeu o diagnóstico do câncer de mama. "Após ouvir essas palavras eu passei a não ouvir mais nada apenas a boca do médico se mexendo, o chão sumiu foi a sensação de uma dor física de um soco na boca do estômago", relata.

Ela recorda que nesse período a filha estava internada com pneumonia, o que foi ainda mais desafiador. Veio o tratamento com quimioterapia e, meses depois, a cirurgia para retirada das mamas e colocação de expansores. Mais alguns meses, as sessões de radioterapia. Não foi fácil!

"Trabalhar ficou mais difícil, todas as atividades ficaram mais difíceis. Eu estava careca e fazia uso de peruca. Me sentia insegura em relação ao meu casamento, sem falar dos fortes efeitos colaterais da quimioterapia", diz.

Para manter a saúde mental e enfrentar todas as incertezas, Bárbara contou com o pilar familiar. "Tive apoio do meu marido, Alex, durante todo o tratamento. Ele foi em todas as consultas, exames, sessões e sem dúvida foi uma das peças-chaves para a minha recuperação, além da minha filha, minha família e minha psicóloga".

Agora, ela é uma ativista e criou um perfil no Instagram onde ajuda e tira dúvida de mulheres que passam pelo processo. "A Bárbara de hoje descobriu que a vida é finita e breve, virou uma ativista da causa e o quanto eu puder levar informação eu levo", finaliza.

O Instagram da Bárbara é o: @bah_diariodeumdiagnostico

Chama a Cássia

Por falar em atendimento psicológico, você sabia que a Medley agora tem uma assistente virtual? É a Cássia e ela está pronta para compartilhar informações importantes sobre saúde mental. Além disso, ela pode te ajudar a encontrar locais de atendimento psicológico gratuito ou valores sociais.6

Chama a Cássia no Whatsapp!

Gisele Borges, 37 anos

A Gisele mora em Jundiaí, no interior de São Paulo, e recebeu o diagnóstico quando tinha 32 anos. Segundo ela, no auge da vida profissional.

"Sistemática, organizada, sempre amei planejamento. Mas não planejei ter um câncer, não planejei fazer uma pausa de quase um ano na carreira, não planejei quimioterapias, cirurgias ou radioterapias", recorda ela sobre o momento em que recebeu o diagnóstico.

Ela conta que o processo fez com que entendesse que o importante não é quanto tempo se tem de vida, mas sim na vida que existe em nosso tempo. "Sempre digo que não é fácil passar por um câncer e não podemos romantizar isto, mas acredite, existe muita vida durante e após esse processo".

"Contei para minha família, tentei ser forte para que eles não sofressem tanto, mas durante todo este processo aprendi que não precisamos ser fortes o tempo todo, que está tudo bem em mostrarmos e reconhecermos nossa vulnerabilidade e que ser acolhido pelas pessoas que nos amam, aquece o coração e deixa tudo mais leve", conta Gisele.

Segundo ela, o apoio de amigos e familiares também foi fundamental nesse período. "Fiz tantos amigos durante o tratamento, conheci pessoas no hospital, nas redes sociais e tenho contato com todos até hoje! Eles são presentes que o processo do câncer me trouxe, e carinhosamente nos chamamos de 'oncofriends'", conta ela.

Outro pilar fundamental para cuidar da saúde emocional foi a terapia, onde Gisele disse que conseguiu trabalhar o autoconhecimento, aceitação e outros pontos que a fizeram se reconectar com ela mesma.

Com o fim do tratamento, ela também passou a se dedicar à causa e se considera uma ativista da prevenção e combate ao câncer.

"Criei um projeto chamado 'Histórias que curam– O câncer não é uma sentença'. Lançamos o volume 1 e 2 e o volume 3 está sendo preparado com muito carinho para fechar o projeto de 3 edições com chave de ouro. No livro reunimos histórias de pessoas que passaram ou estão passando pelo câncer, com objetivo de acolher pacientes, familiares e a todos que desejam conhecer um pouquinho deste universo. Mostramos que não é fácil passar pelo câncer, mas que existe muita vida durante e após este processo", fala Gisele.

Você pode conhecer o projeto dela aqui.

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A importância da prevenção

Conversamos com Abraão Dornellas, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer, que nos explicou da relevância do câncer de mama na saúde feminina e como essa doença pode ser detectada com precocidade.


"O grande desafio para o diagnóstico precoce ainda é a conscientização da população sobre a importância da realização dos exames de rastreamento, bem como o lembrete da necessidade de atualização destes exames", diz o médico.

Ele explica que é fundamental lembrar de evitar fatores de risco, como obesidade, inatividade, uso de álcool, entre outros.

Como prevenir?

Segundo o Instituto Vencer o Câncer, única maneira de identificar se há algo errado com as mamas é fazendo periodicamente a mamografia.7

Como hábitos de estilo de vida estão cada vez mais associados ao risco de desenvolvimento de câncer de mama, manter um peso adequado, alimentar-se de forma saudável e evitar o consumo de bebidas alcóolicas, são ações fundamentais para as mulheres se protegerem contra o câncer de mama.7

A maioria das associações médicas recomenda que as mulheres que não apresentem fatores de risco adicionais façam uma mamografia todos os anos a partir dos 40 anos de idade.6

Aquelas que apresentam fatores de risco adicionais como os mencionados acima devem realizar a primeira mamografia em idade mais precoce, aos 25 anos, e fazer o acompanhamento em intervalos mais curtos, de acordo com orientação médica. Nesses casos, é recomendável adicionar à mamografia uma ressonância nuclear magnética das mamas, exame mais sensível para detectar nódulos.7

Boas notícias

A medicina tem evoluído e a cada ano apresentado novidades quando se fala no tratamento de doenças. Assim é com o câncer de mama, como explica Dornellas.

"Temos excelentes novidades. Os tratamentos têm avançado progressivamente e temos visto a incorporação de novas substâncias, medicações, moléculas para o tratamento. Nós vimos a entrada de novas moléculas que aumentam a sobrevivência das pacientes e melhoram as taxas de cura", diz ele.

Mas alerta: "é importante estimular hábitos de vida saudável, diagnóstico precoce e rastreamento e lembrar que uma vez que o diagnóstico de câncer de mama foi feito, existem tratamentos eficazes e com altas taxas de cura".

Como já foi dito, o câncer de mama é um dos tipos mais curáveis da oncologia, porém sua chance de cura depende muito do seu estágio.²

Referências:

  1. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | Câncer de mama e as emoções: além do que os olhos podem ver! Disponível em: https://vencerocancer.org.br/cancer-de-mama-e-as-emocoes-alem-do-que-os-olhos-podem-ver/ - Acesso em: outubro de 2023;
  2. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | O que é? - Disponível em: https://vencerocancer.org.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama-o-que-e/ - Acesso em: outubro de 2023;
  3. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | Campanha ‘Outubro Rosa para todas’ destaca importância da prevenção, da informação e dos direitos das pacientes em todas as fases da doença. Disponível em: https://vencerocancer.org.br/instituto-vencer-o-cancer-defende-mais-acesso-a-tratamentos-contra-o-cancer-de-mama/ - Acesso em: outubro de 2023;
  4. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | Muitas faces do câncer de mama - https://vencerocancer.org.br/old/cancer/noticias/muitas-faces-do-cancer-de-mama/ - Acesso em: outubro de 2023;
  5. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | A importância da saúde mental durante o tratamento oncológico. Disponível em: https://vencerocancer.org.br/a-importancia-da-saude-mental-durante-o-tratamento-oncologico/ - Acesso em: outubro de 2023;
  6. Medley. Saúde Mental. Disponível em: https://www.medley.com.br/saude-e-bem-estar/saude-mental. Acesso em: outubro de 2023.
  7. Instituto Vencer o Câncer. Câncer de mama | Prevenção - https://vencerocancer.org.br/tipos-de-cancer/cancer-de-mama-o-que-e/cancer-de-mama-prevencao/ - Disponível em: Acesso em: outubro de 2023;
     

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