como ajudar uma mãe com depressão pós-parto
No Brasil, a depressão pós-parto é alta e afeta 1 a cada 4 mães.
Ela é um transtorno que pode aparecer dentro de um ano depois do nascimento do bebê [2].
Mas as pessoas próximas podem ter dificuldade de diferenciá-la do chamado baby blues[2] , um conjunto de sentimentos de desânimo, cansaço e tristeza que surge em média três a quatro dias após o parto, atingindo de 30% à 75% das mulheres. O baby blues é bastante comum, mas ele desaparece em até duas semanas e não necessita de tratamento.
Mas quando o desânimo persiste, aliado a uma sensação de vazio, falta de esperança, e dificuldade em sentir prazer nas coisas, algo está errado. E nesse caso, o que fazer para ajudar uma mãe recente passando por esse momento difícil?
O apoio começa com amigos e parentes, porque eles podem (e devem) diminuir seu sofrimento e incentivar a busca de ajuda médica. A empatia que é o ato de se colocar no lugar do outro, sem julgamentos ou conceitos pré-determinados, é o primeiro passo. Não julgue a mãe com depressão pós-parto, porque o que ela mais precisa nesse momento é de compreensão.
Ela já se sente culpada, portanto também cobrar o contentamento que socialmente se espera após o nascimento de um bebê só fará com que ela se sinta mais aflita por não estar sentindo essa alegria. Lembre-se: a ausência desse sentimento de felicidade não é uma fraqueza da mulher.
“É preciso tirar a ideia de que a mãe tem de estar sempre feliz. Quem está ao redor precisa entender
que ela não está feliz porque está deprimida, e não por outras razões”, diz o psiquiatra Luiz Scocca,
membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
O médico explica que familiares e amigos têm um papel fundamental nessa ajuda, pois são, frequentemente, as primeiras pessoas a identificarem a depressão pós-parto. “Muitas vezes a mãe está deprimida e não consegue perceber. São eles que vão incentivar a mulher a procurar tratamento e dar apoio emocional. Estar ao lado e ajudar a cuidar do bebê – principalmente para a mãe conseguir dormir mais – são pontos importantes”.
Dormir pouco, de acordo com Scocca, contribui para agravar a depressão, já que o sono ajuda a manter o funcionamento normal das funções psíquicas. “A mulher acorda para cuidar do bebê por necessidade, pois não é algo natural”, explica.
Portanto, se oferecer para cuidar do bebê para que a mãe possa descansar é um presente valioso que os amigos, parentes ou companheiro podem dar neste momento.
Não compare a mãe com outras mulheres
Revistas, perfis nas redes sociais e até mesmo as próprias amigas relatam uma alegria imensurável logo após ter o bebê. Quando uma mãe está com depressão pós-parto, ela não sente o mesmo e se culpa por isso. Afinal, não seria completamente natural irradiar felicidade por ter dado à luz a um bebê cheio de saúde? Não necessariamente.
Luiz Scocca explica que a depressão pós-parto pode acontecer por causas genéticas e ambientais, bem como pela queda abrupta de hormônios depois da expulsão da placenta durante o parto. Além disso, a preocupação com o bebê, o medo de não ser uma boa mãe e a falta de sono adequado são gatilhos para desencadear o problema.
É um momento cheio de novas tarefas e de insegurança, o que dificulta a mãe com depressão pós-parto procurar voluntariamente um médico logo no início dos sintomas. É possível, portanto, que as primeiras pessoas a detectarem que algo não anda bem sejam os pais, o companheiro, ou amigos próximos que visitam a casa com frequência.
É de grande ajuda incentivar a mulher a buscar um médico. Se ela não está conseguindo ter conexão com o bebê e os pensamentos ruins não cessam, é preciso consultar um especialista o quanto antes para que se inicie o tratamento.
Quem receia que a mulher não possa amamentar caso tenha de tomar medicamentos antidepressivos, está enganado. O psiquiatra explica que há muitos deles que são extremamente seguros para serem usados durante a amamentação, ou seja, o bebê não será prejudicado de forma alguma[3].
Durante todo esse período, o mais importante é oferecer um ombro amigo à mãe, ajudá-la nas tarefas diárias com o bebê e confortá-la durantes os altos e baixos do tratamento. "A mulher precisa desabafar em conversas com amigos e também na terapia", explica o psiquiatra.
Referências:
[1] Mariza Miranda Theme Filha, Susan Ayers, Silvana Granado Nogueira da Gama et al. Factors associated with postpartum depressive symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study, 2011/2012. Journal of Affective Disorders. Disponível em: https://www.jad-journal.com/article/S0165- 0327(15)30678-9/fulltext
[2] World Health Organization. Maternal Mental Health & Child Health and Development. Literature review of risk factors and interventions on Postpartum Depression. Departmetn of Mental Health and Substance Abuse. Disponível em: http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/mmh&chd_chapter_1.pdf
[3] Jan Øystein Berle,Olav Spigset. Antidepressant Use During Breastfeeding. Current Women's Health Reviews. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3267169/
[4] Aspas do médico psiquiatra Luiz Scocca, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria
SABRAGE.MDY.18.10.0351