Cardiopatia é um termo médico genérico que engloba diversas doenças e condições que podem afetar o coração e o sistema vascular em pacientes de todas as idades. Aqui, vamos entender sobre as conexões entre o corpo e a mente, e que afetam o coração.

 

Conversamos com o cardiologista Dr. Roberto Miranda, o médico chefe do serviço de cardiologia da disciplina de geriatria e gerontologia da EPM/UNIFESP e integrante do Coletivo Medley #PodeContar, que nos explica sobre as conexões entre corpo e mente, que acontecem principalmente através do sistema nervoso autônomo.

“o sistema autônomo é aquele que funciona independente da nossa vontade. Por exemplo, se você fizer um exercício, seu coração irá acelerar. O mesmo vale para quando sentir uma emoção”, explica. “Se eu te contar que você ganhou na loteria, seu coração irá disparar. Quando estamos apaixonados por alguém e essa pessoa nos manda uma mensagem de texto, nosso coração também acelera”, completa.

A depressão é tecnicamente um transtorno mental, mas também afeta a saúde física. Pode afetar tudo, desde o coração, os rins, o sistema nervoso e a saúde do sistema imunológico.

Conheça alguns dos sintomas mais comuns da depressão e também como isso pode afetar todo o seu organismo, principalmente se essa doença não for tratada. A depressão pode tanto provocar doenças cardiovasculares como ser consequência delas. E a associação das duas condições pode ter resultados bastante preocupantes.

Os sintomas da depressão variam, mas geralmente incluem tristeza profunda e persistente, falta de interesse ou prazer em atividades cotidianas que antes davam prazer, mudanças no apetite ou peso, distúrbios do sono, fadiga, dificuldade de concentração, baixa autoestima, amargura e culpa.

Pessoas com depressão podem experimentar sintomas físicos como dores inexplicáveis e tensão. Por isso reforçamos, é importante buscar ajuda médica se esses sintomas persistirem, pois a depressão é uma condição tratável.

Quando a depressão dói

A depressão é uma condição complexa que afeta não apenas a mente, mas também o corpo. Aqui, falamos sobre como a depressão transcende o âmbito puramente mental e pode ter impactos significativos no bem-estar físico de uma pessoa.

Esta interconexão entre saúde mental e física destaca a importância de abordar a depressão de maneira holística, considerando tanto os aspectos psicológicos quanto os físicos.

É muito importante reconhecer que os sintomas físicos da depressão podem variar amplamente de pessoa para pessoa. Alguns indivíduos podem experimentar dores crônicas, distúrbios do sono, fadiga persistente, alterações no apetite e uma série de outras manifestações físicas. Esses sintomas muitas vezes são tão debilitantes quanto os aspectos emocionais da depressão, e podem ter um impacto significativo na qualidade de vida da pessoa.

O que pode ser a dor no peito?

A dor no peito é um sintoma comum a diversas doenças e é um importante alerta para procurar pelo pronto-socorro com urgência. Devido ao risco desse sintoma, é fundamental afastar uma causa cardíaca, principalmente se a pessoa nunca sentiu essa dor anteriormente.

Vamos entender mais sobre isso? Saiba reconhecer as 10 principais condições e sintomas que podem estar relacionadas à dor no peito.

Você já experimentou falta de ar ou dor no peito durante momentos de intensa emoção?

Quando experimentamos emoções profundas, nosso corpo reage de diversas maneiras. O coração pode acelerar, a respiração se tornar mais rápida e superficial, e em alguns casos, podemos sentir uma pressão no peito, às vezes acompanhada de uma sensação de falta de ar.

Essas reações são perfeitamente normais e, na maioria dos casos, são resultado do sistema nervoso simpático entrando em ação (ele é responsável pela preparação do corpo para situações de estresse, muitas vezes referidas como "luta ou fuga"). Durante esses momentos, o corpo libera hormônios como a adrenalina, que aumentam a frequência cardíaca e estimulam a respiração.

No entanto, em alguns casos, esses sintomas podem ser mais do que uma simples resposta ao estresse emocional. Condições médicas, como transtornos de ansiedade, podem ampliar essas reações, levando a episódios mais frequentes e intensos.

Se você tem experimentado episódios de falta de ar ou dor no peito durante momentos de intensa emoção, é essencial buscar orientação médica. Um profissional de saúde pode avaliar sua situação de forma abrangente, ajudando a determinar se esses sintomas estão relacionados a uma resposta emocional normal ou se há alguma condição subjacente que requer mais atenção.

Em todo caso, compreender a conexão entre emoções e reações físicas é um passo importante para cuidar da nossa saúde emocional e física de maneira holística. Lembre-se, buscar apoio quando necessário é um sinal de autocuidado e valorização da sua saúde. Indicamos um artigo sobre mindfulness, que pode ajudar nessa questão de autocuidado.

Quais são os principais sintomas relacionados às doenças cardiovasculares?

As doenças cardiovasculares pertencem a um grupo de doenças do coração e dos vasos sanguíneos. É muito comum a gente escuta falar sobre ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais (AVC), que geralmente são eventos agudos causados principalmente por um bloqueio que impede que o sangue flua para o coração ou para o cérebro. A razão mais comum para que isso ocorra, é o acúmulo de depósitos de gordura nas paredes internas dos vasos sanguíneos que irrigam o coração ou o cérebro.

Muitas vezes não há sintomas da doença subjacente (doenças que não são explícitas, visíveis) dos vasos sanguíneos e um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral pode ser o primeiro aviso da doença subjacente. Os sintomas mais comuns de um ataque cardíaco incluem:

  • Dor ou desconforto no centro do peito;
  • Dor ou desconforto nos braços, ombro esquerdo, cotovelos, mandíbula ou costas.

Além disso, a pessoa pode:

  • ter dificuldade em respirar ou falta de ar;
  • sensação de enjoo ou vômito;
  • sensação de desmaio ou tontura;
  • suor frio e palidez.

Já com relação ao AVC - acidente vascular cerebral, o sintoma mais comum de um acidente vascular cerebral é uma súbita fraqueza da face e dos membros superiores e inferiores, mais frequentes em um lado do corpo. Entre os sintomas:

  • Dormência na face, braços ou pernas, especialmente em um lado do corpo;
  • Dificuldade para andar, tontura, perda de equilíbrio ou coordenação;
  • Dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos;
  • Confusão, dificuldade para falar ou para entender;
  • Dor de cabeça intensa sem causa aparente; e
  • Desmaio ou inconsciência.

*Mulheres são mais propensas a apresentar falta de ar, náuseas, vômitos e dores nas costas ou mandíbula

As pessoas que apresentarem tais sintomas devem procurar imediatamente assistência médica.

O impacto da depressão na saúde do coração

Engana-se quem pensa que os prejuízos gerados pela depressão estão relacionados apenas à saúde emocional. A depressão também potencializa uma série de problemas de saúde e está relacionada a fatores de risco para diferentes cardiopatias, sendo um dos aspectos que mais contribuem com a piora dos prognósticos em pacientes que se recuperam de infarto e AVC, por exemplo.

A saúde mental pode impactar o funcionamento do coração e provocar dores físicas no corpo todo, conheça a relação entre as doenças do coração e a depressão. De acordo com o Dr. Miranda, parte dos pacientes que chegam ao seu consultório reclamando de sintomas físicos têm, na verdade, distúrbios emocionais. “Pressão no peito, sensação de bola na garganta, falta de ar, palpitação… todos esses sintomas costumam estar relacionados a quadros emocionais”.

Muitas vezes, no entanto, os pacientes apresentam as duas condições, depressão e doença cardíaca. Distúrbios de saúde mental podem gerar doenças do coração quando emoções negativas se perpetuam, gerando estímulos contínuos no corpo todo. “A descarga contínua de adrenalina, cortisol e outros hormônios provoca um desgaste no organismo. Alimentação e sono, por exemplo, podem ser afetados”, diz o Dr. Miranda.

Se você dorme mal, o funcionamento do seu organismo poderá ser prejudicado. Isso não significa necessariamente dormir pouco, você pode ter um sono pouco proveitoso, por exemplo. De forma similar, a depressão pode prejudicar nosso apetite ou provocar uma alimentação de má qualidade, gerando problemas como colesterol ou diabetes, ambos relacionados às doenças cardíacas.

E o contrário, doenças cardíacas podem gerar depressão?

Sim, o inverso também acontece. Indivíduos que nunca tiveram depressão podem se deparar com esse problema ao desenvolverem condições cardiovasculares mais graves. Tal fenômeno não se restringe apenas às preocupações e ansiedades comuns em situações semelhantes. Pesquisas recentes indicam que fatores presentes em pacientes com problemas cardíacos, como processos inflamatórios, alterações plaquetárias e um excesso na produção de noradrenalina, também podem desencadear distúrbios psiquiátricos ou neurológicos, incluindo a depressão.

Lidar com uma doença cardiovascular ou se recuperar de um infarto pode afetar significativamente a sua saúde emocional. Doenças cardíacas podem funcionar como um gatilho para que a pessoa possa adotar uma vida mais saudável, mas também pode provocar comportamentos opostos. “Há quem comece a fumar, a adotar hábitos negativos ou a simplesmente ficar deprimido. A depressão, então, acaba agravando o quadro da doença no coração, já existente”, explica Dr. Miranda.

O cardiologista revela que após um infarto ou derrame, as chances de a pessoa apresentar uma doença de saúde mental podem chegar a 50%. Paralelamente, quem teve um infarto e é deprimido é considerado um paciente mais grave do se estivesse com boa saúde mental. E após um infarto ou derrame, as chances de a pessoa desenvolver uma condição de saúde mental podem chegar a 50%.

Tratamento integrado para pacientes com depressão e outras doenças associadas

O cardiologista Dr. Roberto Miranda acrescenta que, para a maioria dos pacientes, é mais fácil aceitar como diagnóstico um problema físico, como uma cardiopatia, do que um transtorno de saúde mental, como a depressão, dados os estigmas associados a doenças mentais, que só prejudicam ou retardam o tratamento.

O diagnóstico, inclusive, nem sempre fácil, é realizado pelo psiquiatra ou psicólogo através da observação dos sintomas. Geralmente, a pessoa apresenta vários dos sintomas durante um período prolongado e a partir daí é recomendado o tratamento adequado.

Certas queixas são características da depressão, como perda de interesse, alterações do sono, desmotivação e tristeza profunda e prolongada. “O que acontece com frequência é o paciente sair desse quadro mais típico. Muitas vezes vem ao clínico geral ou cardiologista com queixas físicas, que podem se manifestar em qualquer lugar do corpo. As mais comuns estão associadas a cardiopatias”, afirma Dr. Miranda.

O cardiologista pode, então, diagnosticar o paciente e até receitar o tratamento adequado para a doença cardíaca e a depressão, mas o ideal é que o paciente procure um médico especialista em saúde mental, um psicólogo ou psiquiatra e siga as orientações e tratamento que podem incluir terapias e medicamentos, a depender do caso.

A depressão impacta a saúde mental e física

Em última análise, reconhecer que a depressão pode transcender o âmbito puramente mental é um passo crucial para uma compreensão mais abrangente dessa doença. Isso destaca a necessidade de uma abordagem global para um tratamento eficiente, visando aliviar os sintomas emocionais, a saúde física e o bem-estar geral das pessoas afetadas pela depressão.

A abordagem do tratamento deve ser personalizada e integrativa, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por profissionais de saúde mental e física. A terapia cognitivo-comportamental, a medicação quando necessária, técnicas de relaxamento, atividade física e uma dieta equilibrada podem desempenhar papéis importantes na gestão da depressão que afeta tanto o corpo quanto a mente.

Se você ou alguém que você conhece sentir alguns desses sintomas apresentados aqui ou outros sintomas de depressão, por mais de duas semanas seguidas, não hesite em procurar um especialista em saúde mental.

 

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Referências

  1. Conteúdo produzido a partir de entrevista com o médico Cardiologista Dr. Roberto Miranda, Chefe do Serviço de Cardiologia da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da EPM/UNIFESP.
  2. The Effects of Depression on Your Body. Healthline. [acessado em 03 de Out. de 2023].
  3. O impacto da depressão na saúde. HCor Saúde, Edição nº21. [acessado em 03 de Out. de 2023].
  4. Descubra as causas da dor no peito e quando se preocupar. Vida Saudável, O Blog do Einstein. [acessado em 03 de Out. de 2023]
  5. Imagens: Freepik

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