Estresse provocado por experienciar racismo cotidianamente pode deixar a população negra mais vulnerável ao transtorno.
Depressão não escolhe sexo, idade ou cor da pele. Mas estudos mostram que enfrentar diariamente situações hostis e racistas, como acontece com negros e outras minorias, está associada com um comprometimento da saúde mental.1 Mas a boa notícia é que, embora não tenhamos como controlar o que acontece ao nosso redor, é possível cuidar da saúde mental e ter uma vida produtiva.
Estudos já comprovaram2que enfrentar situações como o racismo diariamente está associado com transtorno de ansiedade, alimentar e estresse, que é um dos fatores de risco para o desenvolvimento da depressão.3
Outros fatores sociais além do racismo diário podem ter seu papel. Historicamente, a população negra no Brasil tem indicadores socioeconômicos piores que outros grupos4, como por exemplo, poder aquisitivo --negros possuem salários médios 50% menores que não negros.4 E a pobreza também é considerada um fator de estresse contínuo que pode desencadear depressão.
Por isso, não é de se estranhar que um estudo brasileiro já tenha apontado uma prevalência maior de depressão em pessoas da raça/cor de pele morena, mulata e preta do que em pessoas da raça/cor de pele branca.5
Ou seja: nada de sofrer em silêncio. Veja como buscar apoio:
Na diferença entre os sexos, as mulheres negras têm ainda mais desvantagens. Não só porque já está estabelecido que as mulheres são duas vezes mais propensas a ter depressão do que os homens6, mas quando se compara entre brancas e negras, as últimas costumam apresentar mais sintomas depressivos do que as primeiras.5
Esse problema não é exclusivo do Brasil: de acordo com estudos norte-americanos,7,8o racismo enraizado em toda a sociedade dos Estados Unidos também atrapalha a saúde mental das mulheres negras, que, além de ter de lidar frequentemente com racismo, também sofrem mais violência doméstica do que mulheres brancas, o que aumenta o índice da doença.
No Brasil, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres (de todas as raças) trabalham, em média, três horas a mais do que os homens e ganham, em média, 15% a menos do que eles.9 Muitas delas ainda por cima têm jornada dupla de trabalho, ou seja, trabalham fora e dentro de casa, o que aumenta o estresse, que claramente é um dos gatilhos para o desenvolvimento da depressão.
A depressão é uma doença tratável. Busque ajuda médica e, se não conseguir consulta com um psiquiatra, procure um médico de confiança e converse sobre o que você está sentindo. Psicoterapia10 e atividade física11 também são práticas que aliviam os sintomas da depressão e ajudam a colocar a vida nos eixos.
Referências bibliográficas
1.Paradies Y, Ben J, Denson N. Racism as a Determinant of Health: A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS One.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26398658/
2.Krim K Lacey, Regina Parnell, Dawne M Mouzon. The mental health of US Black women: the roles of social context and severe intimate partner violence. British Medical Journal.
Disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/5/10/e008415
3.Mayo Clinic. Stress management.
Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/stress-management/expert-answers/stress/faq-20058233
4.IBGE mostra as cores da desigualdade. Agência IBGE de notícias .
Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/21206-ibge-mostra-as-cores-da-desigualdade
5.Jenny Rose Smolen, Edna Maria de Araújo. Raça/cor da pele e transtornos mentais no Brasil: uma revisão sistemática. Scielo.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v22n12/1413-8123-csc-22-12-4021.pdf
6.Mayo Clinic. Depression in women: Understanding the gender gap.
Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/depression/in-depth/depression/art-20047725
7.Krim K Lacey, Regina Parnell, Dawne M Mouzon. The mental health of US Black women: the roles of social context and severe intimate partner violence. British Medical Journal.
Disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/5/10/e008415
8.Debra Houry, Robin Kemball, Karin V. Rhodes. Intimate partner violence and mental health symptoms in African American female ED patients. The American Journal of
Emergency Medicine.
Disponível em: https://www.ajemjournal.com/article/S0735-6757(06)00010-6/fulltext
9.Mulher estuda mais, trabalha mais e ganha menos do que o homem. Agência IBGE de notícias.
Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/20234-mulher-estuda-mais-trabalha-mais-e-ganha-menos-do-que-o-homem
10.Mijung Park, Pim Cuijpers, Annemieke van Straten et al. The effects of psychotherapy for adult depression on social support: A meta-analysis. HHS Author Manuscripts.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4465276/
11.Lynette L. Craft, Frank M. Perna. The Benefits of Exercise for the Clinically Depressed. The Primary Care Companion to the Journal of Clinical Psychiatry.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC474733/
SABRAGE.MDY.19.03.0111
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