O psiquiatra é o profissional médico especializado no estudo e tratamento de transtornos mentais e de comportamento, ou seja, lida com as disfunções do cérebro.

É o médico responsável por diagnosticar e tratar questões de ordem mental, como dependência química, bipolaridade, transtornos alimentares, síndrome do pânico, depressão e ansiedade, por meio de intervenções terapêuticas e medicamentosas. É importante ressaltar, que somente esse especialista pode prescrever medicamentos para doenças mentais.

Durante muito tempo, a psiquiatria foi alvo de preconceitos, sendo associada à ideia de cuidar apenas de pessoas com graves transtornos mentais. Com o tempo, passou-se a compreender a relevância desse campo da medicina. No entanto, ainda existe um certo estigma por parte de algumas pessoas.

No caso da depressão, uma doença complexa cujas causas podem ser inúmeras, em que cada pessoa, dentro da sua individualidade, pode enfrentar diferentes fatores de risco, o diagnóstico é realizado por um psiquiatra ou psicólogo e a depender do caso, por uma equipe interdisciplinar, envolvendo outros profissionais de saúde.

Como ir ao psiquiatra ainda pode ser uma dificuldade para algumas pessoas, buscamos a orientação de um especialista para dissipar quaisquer preconceitos e obter esclarecimentos sobre o que esperar durante uma consulta psiquiátrica. E para melhor ilustrar a conversa, optamos por falar de depressão, por ser uma doença bastante comum.

Vamos abordar temas sobre como é feito o diagnóstico? Se medicamentos serão prescritos? Em quanto tempo é possível perceber melhoras?

Consulta clínica: diagnosticando a depressão

O Dr. Kalil Duailibi, psiquiatra parceiro do coletivo Medley #PodeContar, explica que a primeira consulta é clínica, ou seja, funciona como na visita a qualquer outro médico. “Traçamos o histórico de vida da pessoa: possíveis episódios anteriores de depressão, fatores familiares, sintomas emocionais e físicos e o que aconteceu para desencadear o quadro”, explica. Pode-se, ainda, solicitar exames caso desconfie que o problema emocional está relacionado à outra condição de saúde, como exames de sangue e imagem, ultrassons ou uma ressonância cerebral.

No entanto, a consulta com o psiquiatra vai além do quadro clínico. “O médico também estará interessado na sua vida, no que está acontecendo com você e em quais são os fatores precipitantes”, diz. “O psiquiatra está lá para te acolher, encontrando assim o melhor caminho para o seu tratamento”, completa, Dr.Duailibi.

A primeira consulta pode não ser com o psiquiatra

O médico psiquiatra, porém, não é, necessariamente, a primeira escolha do paciente. Muitas vezes, quem acha que pode estar com depressão, por exemplo, se sente mais confortável em conversar com um médico já conhecido, como o ginecologista, cardiologista ou médico da família.

A depressão pode, inclusive, se manifestar por meio de indícios físicos, como dores no peito ou falta de ar. Nesses casos, é comum procurar um médico clínico geral, pois é natural pensar que se trata de outra doença. O médico fará o diagnóstico e possivelmente irá tratar a depressão se a situação não for muito grave.

“Isso é muito interessante para os quadros mais leves. Eles são diagnosticados e cuidados pelo clínico geral, geriatra ou cardiologista, por exemplo. Mas em quadros mais moderados ou graves, a avaliação de um especialista é necessária”, explica. “O psiquiatra é, então, o profissional médico habilitado a fazer o primeiro diagnóstico correto, inclusive na primeira consulta”, completa Dr. Duailibi.

O psiquiatra tem, também, condições para procurar razões fisiológicas que possam ser a causa da depressão, como hipotireoidismo ou câncer, por exemplo. Segundo o Dr. Duailibi, há cerca de 50 doenças que podem gerar quadros depressivos. Por isso, é importante encontrar a causa para, em seguida, sugerir o tratamento adequado.

Tratamento multidimensional

Engana-se quem pensa que a psiquiatria trata a depressão apenas com remédios. Após traçar o quadro clínico e dar o diagnóstico, o psiquiatra sugere o tratamento mais adequado para aquele caso. Em geral, é multidimensional, incluindo abordagens com terapia e indicação de atividades físicas para ajudar na produção de endorfina.

“Quadros leves respondem bem a outras terapias, como psicoterapia, exercícios, meditação e yoga. Mas em quadros moderados, a pessoa nem consegue fazer essas atividades, não tem energia para isso”, explica. “Nesses casos a medicação auxilia muito, ela funciona como se estivéssemos desatolando o carro para depois seguir em frente. Geralmente o remédio funciona como o primeiro passo para melhorar, mas nunca age sozinho”, reforça.

Além disso, caso a depressão tenha causas fisiológicas definidas, como um tumor ou problema na tireoide, deve-se encaminhar o paciente para o tratamento da doença. “Precisamos ressaltar que o deprimido deve procurar um médico, não apenas um terapeuta ou psiquiatra. Às vezes a pessoa tem hipotiroidismo e sente um mal-estar, além de falta de energia e vontade. Mas se ela tratar apenas a depressão, os sintomas de tireoide não vão desaparecer”, explica Dr. Duailibi.

Aceite e comprometa-se com o seu tratamento

Após a consulta inicial, é fundamental manter o tratamento e continuar visitando o psiquiatra em consultas regulares. De acordo com o Dr. Duailibi, quando o/a paciente é medicado e os remédios começam a fazer efeito, a pessoa tende a parar de se tratar. Quando isso acontece, as chances de a depressão voltar são muito grandes.

Por fim, o especialista aconselha a lidar com as expectativas antes da primeira consulta ao psiquiatra. Porque o tratamento é gradual, mesmo quando há o uso de medicamentos.

“O remédio para depressão não surte efeito imediato, como um remédio para dor de cabeça. Por isso, devemos controlar as expectativas e entender que, lentamente, chegaremos na dose certa. Geralmente, a medicação demora de 3 a 15 dias para começar a gerar melhora”, explica Dr. Duailibi.

Quando a depressão é recorrente, com vários episódios depressivos, o tratamento provavelmente será mantido por um tempo mais longo. Mas o que importa, no final das contas, é estar bem. “Sem tratamento o deprimido não consegue manter relacionamentos, ter um bom trabalho e assim por diante. É muito custoso para a sua vida”, afirma. “Por isso precisamos deixar nossos preconceitos de lado e entender que, se nos tratarmos, voltaremos a funcionar bem e, por consequência, a nos sentirmos melhores”, finaliza Dr. Duailibi.

Diferenças entre psicologia e psiquiatria

A psicologia e a psiquiatria são disciplinas distintas no campo da saúde mental, mas têm abordagens e treinamentos diferentes para lidar com questões emocionais e mentais.

É importante entender que ambas as especialidades podem auxiliar em questões que envolvem transtornos mentais e que a diferença está no tipo de tratamento. E muitas vezes trabalham juntas para fornecer o melhor atendimento aos pacientes.

Os psicólogos trabalham com terapias e abordagens de aconselhamento, que podem ser de diversas orientações, como cognitivo-comportamental, psicodinâmica, humanista etc. Usam técnicas que busca analisar todo o contexto e histórico da pessoa por meio de sessões e técnicas conversacionais. O psicólogo escuta, questiona e incita algumas reflexões no paciente.

A psiquiatria atua sob uma perspectiva médica e, portanto, medicamentosa. Os médicos psiquiatras podem prescrever medicamentos e muitas vezes adotam uma abordagem multidisciplinar, combinando tratamentos.

A psiquiatria também leva em conta o histórico do paciente, assim como aspectos comportamentais, de humor e atenção. Além da avaliação clínica, os psiquiatras também podem solicitar exames físicos e laboratoriais para descartar condições médicas que possam estar contribuindo para os sintomas.

A primeira consulta marca o início da jornada em direção à saúde mental e ao bem-estar

Em resumo, a primeira consulta com um psiquiatra marca o início de uma jornada em direção à saúde mental e ao bem-estar. É um espaço seguro para compartilhar preocupações e receber orientações especializadas e ao entender as expectativas, preparar-se adequadamente para o tratamento.

Pelas várias razões apontadas acima, é fundamental, para uma pessoa que está enfrentando a depressão ou qualquer oura doença mental, buscar ajuda de um profissional de saúde especializado, como um psiquiatra ou psicólogo. Se você conhece uma pessoa que está enfrentando uma doença de fundo mental, se ofereça para levá-la ao médico. Se você é esta pessoa, peça ajuda.

Mantenha a mente aberta, confie no processo e esteja seguro de que está dando um passo valioso na direção certa para a sua saúde mental. Não é fácil, mas é necessário. Não desista!

Referências

  1. Conteúdo produzido a partir de entrevista com o médico psiquiatra Dr. Kalil Duailibi, professor assistente III da Universidade de Santo Amaro e professor titular do Instituto de Psiquiatria e Psicanálise da Infância e Adolescência.
  2.  Afinal, quando procurar um psiquiatra? Hospital Santa Mônica (Ensino e Pesquisa). [acesso em 25 de Set de 2023].
  3. Afinal, por que e quando procurar um psiquiatra? Clínica Hospilar Recanto. [acesso em 25 de Set de 2023].
  4. Imagens: Freepek

 

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