Dados da OMS revelam que há +300 milhões de pessoas com depressão em todo mundo e desses, cerca de 1% a 2% são crianças.

Como você pode reconhecer a depressão infantil?

A depressão em crianças é uma condição de saúde mental que afeta o humor, o comportamento e o bemestar emocional das crianças. Assim como em adultos, a depressão em crianças é mais do que apenas se sentir triste. Envolve uma tristeza profunda e persistente, aquela sensação de que ‘é uma tristeza sem fim’ e é muitas vezes acompanhada de uma perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas, como brincar com os amigos.

Embora ainda não se dispense a atenção devida à depressão nessa faixa etária, ela é relativamente comum. Atualmente, a doença, que antes parecia ser uma aflição exclusiva dos adultos, afeta entre 0,2% e 7,5% das crianças brasileiras abaixo de 14 anos.

A saúde mental das crianças merece toda a nossa atenção. A depressão infantil, embora muitas vezes subestimada, é uma realidade que pode impactar significativamente o desenvolvimento e bem-estar dos pequenos. Compreender os sinais, causas e estratégias de tratamento é essencial para oferecer o suporte correto e necessário para ajudar as crianças a enfrentarem esse desafio.

De acordo com o psiquiatra Luís Altenfelder, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a depressão na infância normalmente é diagnosticada depois dos cinco anos de idade, e as causas são multifatoriais, como vulnerabilidade do sistema nervoso central, fatores genéticos e ambientais. "Não há uma causa única para ocasionar um quadro depressivo", afirma Dr. Altenfelder.

O diagnóstico, porém, não é simples como em adultos. "A ocorrência dos sintomas da depressão depende da idade e do nível de maturidade da criança. É importante lembrar que, aquilo que constitui um comportamento normal e o que caracteriza uma doença dependem do contexto em que os sintomas aparecem e dos prejuízos que eles causaram”. Diz o psiquiatra.

A birra, por exemplo, é um dos sintomas de depressão infantil. Mas o fato de a criança ser birrenta, manhosa, por si só, não indica um quadro depressivo. Mas se esta birra está associada a outros fatores, a suspeita pode se justificar.

Um olhar atento às mudanças de comportamento da criança é fundamental para iniciar a busca por ajuda de um especialista em saúde mental. A partir de então, o profissional poderá investigar se há algo errado e recomendar o tratamento adequado.

O que pode causar depressão infantil

É importante notar que a depressão em crianças tem causas multifatoriais, envolvendo fatores genéticos; traumas, como abuso sexual ou psicológico; perdas, problemas de convivência familiar ou social, na escola, complicações durante a gestação; e alguns traços próprios da personalidade da criança.

Quando há casos de depressão na família, a probabilidade de a criança desenvolver algum transtorno mental aumenta significativamente e se os pais, forem os pacientes afetados, os riscos podem ser bem maiores.

Alguns dos principais fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da depressão em crianças incluem:

A identificação precoce dos sintomas e o acesso ao tratamento adequado são essenciais para ajudar a criança a superar a depressão. Os pais, responsáveis e profissionais de saúde desempenham um papel crucial quando se trata de apoiar o tratamento das crianças que enfrentam essa condição.

Sintomas que podem indicar depressão infantil

Sua criança fica muito quieta, irritada com frequência, com muito medo de separar-se dos pais ou cuidadores?

Geralmente, criança com depressão perde o interesse por brincar. Alguns aspectos do comportamento da criança podem revelar um quadro depressivo, com os seguintes:

  • Alterações do apetite, com histórico de variação de peso;
  • Alterações no sono;
  • Diminuição da atividade física;
  • Fadiga;
  • Reclamações excessivas de dores e incômodos;
  • Isolamento, fica mais calada, quieta;
  • Irritabilidade;
  • Birra excessiva;
  • Medo excessivo, duradouro e persistente;
  • Urina na cama com frequência;
  • Vazamento involuntário de fezes;
  • Fraco desempenho da escola;
  • Resistência em ir à escola.

Quando se trata de crianças, dificilmente se pensa em depressão logo de início. Geralmente os adultos têm dificuldade em entender que a criança está com depressão e é muito comum que ela seja encaminhada para avaliações com outros especialistas, ou que a condição possa ser confundida com déficit de atenção e hiperatividade, o que acaba retardando diagnóstico e tratamento adequado.

De modo geral, a criança vai se retraindo e muitas vezes os pais não percebem que algo errado está acontecendo. "As crianças menores têm maior dificuldade de entender a subjetividade dos sentimentos e frequentemente exteriorizam a tristeza por meio de sintomas físicos", diz Dr. Altenfelder.

Você já ouviu falar sobre o Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor (TDDH)?

Sabe aquela criança que faz birra em proporções muito exageradas? Ela pode ter o transtorno disruptivo de desregulação do humor, uma condição psiquiátrica que afeta principalmente crianças e adolescentes. Conheça outros tipos de depressão.

Os sintomas do TDDH incluem:

  • Irritabilidade crônica;
  • Explosões de raiva;
  • Problemas comportamentais;
  • Dificuldades em lidar com frustrações; e
  • Problemas de relacionamento.

O TDDH é uma categoria relativamente nova de diagnóstico, que foi introduzida para evitar os diagnósticos excessivos do transtorno bipolar em crianças que apresentam sintomas de irritabilidade grave. É importante saber que são condições distintas e diferentes. Enquanto o Transtorno Bipolar envolve mudanças significativas no humor entre episódios de depressão e mania (ou hipomania), o TDDH se concentra principalmente nas explosões de raiva e irritabilidade.

O tratamento para o TDDH pode incluir terapia comportamental, terapia familiar e, em alguns casos, medicamentos. A avaliação adequada por um profissional de saúde mental é crucial para determinar o diagnóstico correto e o tratamento mais apropriado.

Como prevenir a depressão infantil?

A prevenção da depressão infantil envolve a criação de um ambiente emocionalmente saudável e o desenvolvimento de habilidades emocionais e sociais nas crianças. A seguir, algumas estratégias que os pais e cuidadores podem adotar para ajudar a prevenir a depressão infantil:

Você que é pai, mãe ou cuidador(a), esteja ciente de mudanças de comportamento, sinais de tristeza persistente ou isolamento social e busque ajuda profissional quando necessário.

A prevenção é um esforço contínuo e envolve a colaboração de pais, educadores e profissionais de saúde. Estar presente e apoiar o desenvolvimento emocional saudável da criança é fundamental para prevenir a depressão infantil.

Como tratar a depressão infantil?

A depressão infantil é um transtorno que pode impactar significativamente o desenvolvimento da criança. Mas, vale lembrar que essa condição é tratável, e a busca por ajuda deve iniciar assim que os primeiros sinais e sintomas da depressão forem identificados.

O tratamento envolve uma colaboração multidisciplinar, entre o médico, que poderá prescrever medicações quando necessário, e o profissional de psicologia, que conduzirá sessões de terapia com a criança para compreender as causas da depressão e propor medidas terapêuticas adequadas. Além do total suporte da família, aliás, o ideal é que a criança e família façam um trabalho de psicoterapia. Essa abordagem integrada é fundamental para proporcionar o tratamento necessário e promover o bem-estar emocional da criança.

A depressão infantil é uma realidade e merece atenção e cuidado

Em suma, é essencial que pais, cuidadores, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sinais e sintomas, oferecendo um ambiente de apoio, acolhida e compreensão para a criança. A busca por ajuda profissional é fundamental e o tempo de resposta pode fazer toda a diferença no processo de recuperação e no desenvolvimento saudável da criança. Somente com esses múltiplos atores trabalhando juntos para criar um ambiente emocionalmente seguro e promover habilidades de enfrentamento, é que se pode prevenir e tratar de forma eficaz a depressão infantil. Lembre-se, cada criança é única, e com o suporte adequado, elas podem superar esse desafio e se fortalecer emocionalmente.

 

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Referências

  1. Joviana Avanci, Simone Assis, Raquel Oliveira et al. Childhood depression. Exploring the association between family violence and other psychosocial factors in low-income Brazilian schoolchildren. Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health. (acessado em 10 de Out de 2023).

  2. Nádia Nara Rolim Lima, Vânia Barbosa do Nascimento, Sionara Melo Figueiredo de Carvalho et al. Childhood depression: a systematic review. Neuropsychiatric Disease and Treatment. (acessado em 10 de Out de 2023).

  3. Sang Mi Lee, Jung-Rim Yoon, Yoon Young Yi et al. Screening for depression and anxiety disorder in children with headache. Korean Journal of Pediatrics. (acessado em 10 de Out de 2023).

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  5. Depressão Infantil. FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. (acessado em 10 de Out de 2023).

  6. Depressão: sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Hospital Santa Mônica (Ensino e Pesquisa). (acesso em 31 de Ago de 2023).

  7. Estar atento, e se informar no combate à depressão - Depressão na infância (aspas do psiquiatra Luís Altenfelder, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria). Atualizado em setembro de 2019. (acesso em 03 de Nov de 2023).

  8. Aumenta o número de pessoas com depressão no mundo. Organização Pan-Americana de Saúde. OPAS. (acesso em 31 de Ago de 2023).

  9. Na América Latina, Brasil é o país com maior prevalência de depressão. Ministério da Saúde – Gov. Federal. (acesso em 31 de Ago de 2023).

  10. Imagens: Freepik. (acessado em 10 de Out de 2023).

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