Deixar o consultório da ginecologista com o diagnóstico de uma infecção sexualmente transmissível nunca é fácil. Mas antes de entrar em pânico e temer o pior, deve-se saber mais sobre a DST em questão.
A infecção por HPV, uma das DSTs mais recorrente no mundo. A infecção geralmente desaparece espontaneamente, mas uma pequena proporção pode persistir e progredir para um câncer.2
Mas qual é a relação entre HPV e câncer? Como posso me proteger? E a vacinação, é uma forma segura de prevenção? Preparamos, abaixo, um pequeno guia sobre as principais dúvidas sobre a doença:
O que é HPV
O HPV, sigla em inglês para Papilomavírus Humano, é um vírus que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal). Homens e mulheres estão sujeitos à infecção, que pode provocar verrugas, lesões e possivelmente câncer. Existem mais de 150 tipos de HPV, dos quais pelo menos 13 são cancerígenos.2
Os números assustam, mas a maioria dos tipos de HPV não causa problemas e é expelida pelo corpo sem necessidade de intervenção médica. Em alguns casos, o vírus pode ficar latente por anos, sem apresentar sintomas. Mas quando a resistência do organismo cai, pode se multiplicar e provocar o aparecimento de verrugas e lesões.1No entanto, cerca de 90% das infecções desaparecem em até dois anos sem necessidade de qualquer intervenção.2
Quando o vírus se manifesta, os sintomas costumam aparecer de dois a oito meses após a infecção, como verrugas na região genital ou ânus, assim como lesões subclínicas (não visíveis a olho nu).1 Eles costumam ser mais comuns em gestantes e em pessoas com imunidade baixa, como portadores do vírus HIV sem tratamento adequado.
Não são, portanto, todas as pessoas infectadas pelo HPV que desenvolvem câncer de colo de útero. De acordo com o Ministério da Saúde1, aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo têm HPV, sendo que 32% estão infectadas pelos tipos 16 ou 18 -- os principais responsáveis pela maioria dos casos de câncer de colo de útero.
Além do câncer de útero, o HPV pode causar, também, câncer de ânus (85%), orofaringe (35%) e boca (23%)1.
Como devo me prevenir contra o HPV
O HPV é predominantemente transmitido por relações sexuais. A maioria dos homens e mulheres sexualmente ativos é infectada em algum ponto da vida, mas o momento mais provável para contrair o vírus é logo no início das atividades sexuais.2Por isso, a DST é bastante recorrente entre jovens que perderam a virgindade há pouco tempo.
Usar camisinha, portanto, é um mantra meio óbvio que você deverá repetir e adotar pelo resto da sua vida. O preservativo é o único método contraceptivo que também previne contra DSTs. Por isso, mesmo se você toma anticoncepcional, usa o DIU ou qualquer outro método para evitar uma gestação, deve continuar a se proteger contra doenças.
Além de usar camisinha sempre, toda mulher sexualmente ativa deve ir ao ginecologista anualmente para fazer o papanicolau, o exame ginecológico preventivo mais comum para identificar lesões causadas pelo HPV que podem causar câncer de colo de útero. Ele é feito no consultório médico, sem necessidade de anestesia.
Não vamos mentir: como o profissional de saúde irá coletar uma amostra do colo do seu útero, o exame poderá ser um pouco desconfortável. No entanto, mais vale o desconforto do que o risco de desenvolver uma doença grave, não é mesmo?
Prevenção contra o HPV: o (infeliz) pulo do gato
Infelizmente, no caso do HPV, o uso do preservativo não impede totalmente a infecção pelo vírus. Frequentemente, as lesões estão presentes em áreas não protegidas pela camisinha, como vulva, região pubiana, perineal ou bolsa escrotal. A camisinha feminina, ainda que menos popular, é mais eficaz do que a masculina quando utilizada desde o início da relação sexual, já que cobre também a vulva.1
Além disso, atenção ao sexo oral: quem o pratica sem preservativo também está sujeito a contrair o HPV. Inclusive, a incidência dos cânceres de boca e garganta está bastante relacionada a isso.1
Vacina, uma forma segura de prevenção
Em fevereiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde emitiu um comunicado oficial3 no qual defende a vacinação contra o HPV, considerada “segura, crítica e eficaz para a eliminação do câncer de colo de útero”. No Brasil, ela é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde4 em duas doses que devem ser tomadas com intervalo de seis meses por:
- Meninas de 9 a 14 anos;
- Meninos de 11 a 14 anos.
Crianças e mulheres vivendo com HIV, dentro da faixa etária de nove a 26 anos também devem tomar a vacina -- neste caso em três doses disponibilizadas pelo SUS. Para pessoas com ou sem HIV, fora da faixa etária determinada pelo Ministério da Saúde, a vacina pode ser adquirida em clínicas particulares. Converse com o seu médico para entender se é adequado ou não para você.
Precisamos discutir o HPV
O HPV, assim como qualquer infecção sexualmente transmissível, é tabu. Não falar sobre a doença, no entanto, não ajuda nada a preveni-la. Falar sobre ela é, por outro lado, uma forma de conscientizar a população sobre o seu risco e formas de prevenção.
Nos Estados Unidos5 e na Inglaterra6, por exemplo, o HPV é a DST mais recorrente e chega a ser considerada como uma “epidemia escondida”. Apesar da alta prevalência, a doença não é discutida em casa ou entre amigos. Cerca de 70% dos adultos maiores de 18 anos nos Estados Unidos nunca sequer ouviram falar sobre ela.5
No Brasil, os órgãos competentes7 chamam a atenção da população para a importância de vacinar as crianças e adolescentes contra o vírus. Além de dar a vacina, deve-se conversar com os jovens sobre o HPV, já que as chances são maiores no início da vida sexual.
REFERÊNCIAS
SABRAGE.MDY.19.02.0035