Em março, o mundo celebra o Dia Internacional das Mulheres e nós, da Medley, resolvemos falar sobre a importância do esporte como uma poderosa ferramenta de transformação capaz de impulsionar a igualdade de gênero e o empoderamento de meninas e mulheres na sociedade.

Segundo a ONU Mulheres, para que seu potencial transformativo seja alcançado, as organizações que dirigem o esporte precisam elaborar políticas para torná-lo mais igualitário, inclusivo e seguro a fim de que meninas e mulheres possam usufruir e se beneficiar do esporte em condições de igualdade.¹

O tema é tão sensível que há uma ação com diversas diretrizes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a implementação da igualdade de gênero.¹ Mas esse trabalho não começa no nível olímpico e, sim, no nosso dia a dia.

A prática esportiva é uma importante aliada da saúde mental e pode trazer benefícios como²:

- Melhorar o humor
- Aumentar a concentração
- Reduzir o estresse e a depressão
- Melhorar a qualidade do sono
- Melhorar a confiança
- Estimular a liderança
- Melhorar o desempenho escolar 

Criança negra de 5 anos com top e saia dourados

Ellen aos 5 anos: "Aqui eu comecei a receber a mensagem de que o corpo gordo não era capaz"

Esses benefícios foram sentidos pela Ellen Valias desde os 9 anos, quando ela se interessou pelo basquete. Ela lembra que era início dos anos 1990 e astros da NBA como Michael Jordan e Shaquille O’Neal brilhavam na TV. Mas, essa paixão pelo esporte logo foi ofuscada por bullying e preconceito.

“Eu estudava em uma escola particular, onde era a única menina preta e gorda, então foi muito difícil para mim. Enfrentei muito racismo e bullying, mas o amor pelo basquete me fez permanecer nesse ambiente”, conta.

Apesar dos desafios, ela relata que o esporte era um local seguro para ela, justamente porque tinha bom desempenho e era chamada para compor os times. “Isso cria uma relação de segurança, uma sensação de existir e se empoderar”.

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Após os 17 anos, a vida adulta se impôs e Ellen começou a trabalhar e deu uma pausa no basquete, mas continuou a praticar outros esportes como Muay Thai e futebol americano. Ainda assim, tinha algo que estava incomodando.

“Eu sempre me sentia muito sozinha, pois não tinha corpos iguais ao meu. Também sentia dificuldade na questão do vestuário, sempre colocava dois tops e uma calça legging por baixo do short com medo de rasgar. Eu tinha medo até de cair, porque pensava que todo mundo ia rir”, disse.

Nessa época, ela disse que começou a se preocupar muito em diminuir o peso e que, mais tarde, veio a descobrir como isso era uma espécie de punição.

Amor ao esporte e saúde mental

Mulher negra com dreads e camiseta preta, sentada meditando

Ellen Valias tem 41 anos e voltou a se dedicar ao esporte e investiu na carreira da educação física

Ellen conta que, mesmo com todos esses medos, se sentia muito bem na prática esportiva. Foi quando, após 17 anos em uma empresa, resolveu largar tudo e cuidar de si. “Tive uma crise de ansiedade e decidi fazer o que eu gosto. Abri a minha conta no Instagram, o Atleta de Peso, e foi como um grito de liberdade. Queria contar para as pessoas com corpo fora do padrão imposto que elas não eram culpadas de não estarem se exercitando, porque é toda uma estrutura que afasta a gente, uma falta de acolhimento”, ressalta.

Por meio do perfil, ela começou a contar sua vivência e como fazia atividade física e como voltar a se dedicar ao esporte melhorou sua saúde mental. “As pessoas começaram a se identificar e a trocar experiência, o que nos fez fortalecer juntos”.

Para pessoas fora do padrão imposto, diz Ellen, é muito fácil encontrar preconceitos que sempre se repetem em locais de atividade física. “Por isso que luto por essa restruturação de atividade física nas escolas, preparando melhor os profissionais, para que entendam a diversidade corporal. É maravilhoso ter essa troca para a gente espalhar essa mensagem de que todo corpo tem o direito de se exercitar”

Perfil do Instagram de Ellen Vallas

Perfil "Atleta de Peso" tem mais de 151 mil seguidores e aborda os desafios da aceitação de todos os corpos no esporte e na atividade física

Luta pela liberdade feminina

Ellen Valias está cursando educação física e diz que tem um sonho de fazer mudanças por meio do esporte e do exercício, atingindo pessoas que se sentem marginalizadas. “A minha intenção é fazer diferente e oferecer oportunidades para pessoas que são excluídas e que não tenham oportunidade de acessar o esporte”, contou.

“Tenho amigos formados há mais de 20 anos e é praticamente o mesmo ensino. Ainda não temos na faculdade matérias de diversidade de corpos, de gordofobia, de racismo. Para dar esse conhecimento para que profissionais saibam acolher todos os corpos”, continua.

Para isso, segundo ela é importante levar essa visão para as escolas e mostrar para as crianças do que seus corpos são capazes na prática esportiva. Seja ele qual for.

Em seu perfil, ela também tem se dado ao direito de experimentar outros esportes além do basquete, como natação e escalada. “As pessoas têm a visão de que só podem praticar esporte se for para alto rendimento, e não é isso. O meu alto rendimento é existir e fazer esporte”.

No seu esporte favorito, ela criou o coletivo "Rachão Basquete Feminino", que reúne mulheres para jogar em quadras públicas na cidade de São Paulo.

Para finalizar, a atleta de peso tem um recado para as mulheres que nunca se sentiram adequadas para praticar um esporte ou exercício físico:

“Queria dizer para as mulheres que estão lendo que é nosso direito fazer exercício físico. Essa atividade tem sido muito atrelada à punição e emagrecimento estético, ou seja, parece que temos exercícios determinantes para as mulheres, que são aqueles que prometem ‘bumbum na nuca’, barriga chapada e corpão do verão. Essa punição é bem direcionada para as mulheres e não nos dá o direito de nos divertimos”, contou.

Mulher negra de dreads e camiseta preta segurando uma bola de basquete

A paixão pelo basquete, que começou aos 9 anos de idade, seguiu Ellen por toda a vida

A Medley aposta no esporte como agente transformador

A Medley apoia o esporte como ferramenta de cuidado da saúde física e mental, e por isso, nos comprometemos a apoiar os atletas brasileiros através do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

Nosso propósito é promover acesso à saúde e bem-estar para cada vez mais mulheres como você e pessoas de todos os tipos, com corpos e realidades diferentes, seja nesse Mês da Mulher ou todos os outros meses.

Isso vai muito além de medicamentos. Acreditamos que é possível proporcionar mudanças com a produção de conteúdos relevantes e incentivando você a cuidar do corpo e mente através da prática de exercícios físicos.

 

  1. ONU Mulheres. ONU Mulheres e Comitê Olímpico do Brasil lançam pesquisa que traça panorama sobre as políticas de igualdade de gênero nas organizações esportivas. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/noticias/onu-mulheres-e-comite-olimpico-do-brasil-lancam-pesquisa-que-traca-panorama-sobre-as-politicas-de-igualdade-de-genero-nas-organizacoes-esportivas/. Acesso em: Fevereiro, 2023.
     
  2. UNB Esportes - Universidade de Brasília. Os oito principais benefícios mentais do esporte. Disponível em: http://unbesportes.unb.br/index.php/noticias/68-os-oito-principais-beneficios-mentais-do-esporte. Acesso em: Fevereiro, 2023.
     

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