Períodos estressantes no trabalho, pressão do chefe e ter que lidar com um público nada amistoso: essa soma de fatores pode, com o tempo, provocar um esgotamento mental conhecido por burn out. Se você está se sentindo muito mais cansado do que o normal, com desânimo e não rende mais como anteriormente, não se culpe e busque ajuda médica. Com o tratamento adequado, você poderá ter o mesmo prazer e concentração no trabalho que tinha antes.

De acordo com a médica Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP), o burn-out não é a mesma coisa que depressão1, pois a depressão pode ser desencadeada por vários fatores além do excesso de trabalho.

“O que caracteriza o burn-out é uma série de eventos que vão levar ao esgotamento. Em um primeiro momento, a pessoa tem uma sensação de desânimo, de cansaço muito grande. A partir de então, passa para uma situação de indiferença, distanciamento e vai se tornando menos ativa profissionalmente, menos interessada e pode inclusive mudar a forma em que reage no trabalho”, explica Carmita.

“Se antes a pessoa era muito solícita e envolvida com o trabalho, ela passa a ser uma pessoa frequentemente irritada, distante, pouco envolvida e profundamente frustrada ou impotente diante desse quadro, sem conseguir reagir”.

A médica diz que o burn-out pode acontecer com qualquer pessoa que trabalhe, mas atinge principalmente profissões que lidam diretamente com o público. “Não depende exclusivamente também das coisas adversas no trabalho, mas sim do quanto se ‘queimou’ [do inglês burn out]. A pessoa foi além dos seus limites”.

Identificou-se com os sintomas da sindrome de burnout? Procure ajuda

Assim como a depressão, o burn-out não é um sinal de fraqueza, mas sim um indício de que muitos dos próprios limites foram ultrapassados. Por isso, não se culpe caso você esteja apresentando sintomas desse esgotamento extremo.

O primeiro vestígio do problema é aquela indisposição para ir trabalhar2. “Pouco a pouco, a pessoa passa a se sentir desmotivada para o trabalho, e já não sente tanto prazer em estar lá. Devagarinho, vai tendo um cansaço cada vez maior diante de atividades profissionais antes desenvolvidas com facilidade”, explica Carmita.

O problema de não procurar ajuda nesse momento é que essa mudança pode mudar completamente – porém temporariamente – o perfil profissional e de atuação daquele trabalhador. “Ele pode passar a negligenciar atividades e ter consequências sobre essa atitude”.

Não dá para abraçar o mundo – e isso é normal

burn-out também pode ser desenvolvido por causa do ambiente de trabalho precário. Imagine alguém que precisa entregar determinados resultados, mas não recebe os recursos necessários para isso, pode, com o tempo, passar a sofrer do problema. “É preciso que o trabalho ofereça os elementos necessários para o desenvolvimento da tarefa”, salienta Carmita. Além disso, tirar alguns momentos durante o dia para relaxar, por exemplo, é uma boa tática para evitar a síndrome.

O caso está sério? Pode ser necessário um afastamento do trabalho

Muitas vezes, para que o tratamento do burn-out seja feito de forma mais efetiva, o psiquiatra pode optar por afastar temporariamente a pessoa do trabalho, justamente para evitar mais estresse e dar o tempo de uma recuperação adequada.

“O tratamento pode ser feito por meio das mudanças de estilo de vida no trabalho, por psicoterapia ou até mesmo medicação, para que se supere a crise. Dependendo do grau de esgotamento, ser afastado do trabalho, sem dúvida pode ser necessário”, explica a psiquiatra.

Técnicas de relaxamento2

Além de procurar um especialista, é possível minimizar os sintomas do burn-out por meio de técnicas de relaxamento. A técnica mindfulness de meditação, por exemplo, ajuda a enfrentar as situações com mais paciência e sem julgamentos. Fazer atividades relaxantes, como yoga, também é um complemento ao tratamento médico.

Exercícios físicos também são fundamentais para o tratamento tanto da depressão como o burn-out. Por liberar endorfinas e dopaminas, o exercício pode ajudar a lidar com o estresse, o que ajuda bastante no esgotamento mental. No entanto, para que seja efetivo, é preciso um esforço para que o exercício seja feito de forma regular.

Ah, não se esqueça de dormir bem. O sono é um excelente aliado do bem-estar e é fundamental para uma boa recuperação.

Lembre-se, no entanto, que não adianta apenas relaxar. Todas essas atitudes são complementares a um tratamento recomendado pelo psiquiatra, seja ele medicamentoso ou psicoterapêutico.

“Se a pessoa com burn-out praticar somente relaxamento e depois voltar para o mesmo ambiente e as mesmas condições de trabalho, estamos apenas adiando uma solução. O ideal é realmente poder influenciar nessas circunstâncias”, explica Carmita. “Solicitar melhores condições de trabalho na volta e recursos como um todo pode não ser factível às vezes, mas é o ideal” finaliza.

 

Referências

1. NCBI. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG); 2006-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279286/

2. Mayo Clinic. Job burnout: How to spot it and take action. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/adult-health/in-depth/burnout/art-20046642

Entrevista realizada com psiquiatra Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ – HCFMUSP).

 

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